Há uma convicção generalizada de que a nossa atividade profissional nos deve deixar felizes. Todos as sociedades vêm no trabalho o seu ponto fulcral. A nossa é a primeira a entender que devemos procurar trabalho, até mesmo na ausência de imperativos financeiros. O ócio é tao pouco considerado que a palavra negócio, de origem latina resulta da negação do ócio.
A atividade profissional é o elemento que define a nossa identidade, tanto que quando conhecemos alguém, não perguntamos de onde vem, ou quem são os seus progenitores, mas sim o que faz, partindo do pressuposto de que o caminho para uma existência com significado deve, invariavelmente, transpor o emprego remunerado.
As coisas nem sempre foram assim mas desde o Génesis
"Com o suor do teu rosto comerás
teu pão" (Gn, 3: 19) o não-trabalho, a preguiça,
transforma-se num dos pecados capitais do período medieval, a "mãe de
todos os vícios".
De forma totalmente díspar, Aristóteles no século IV a. C, define uma atitude de total incompatibilidade entre a satisfação e uma ocupação remunerada. Para o filosofo grego, as necessidades monetárias colocavam as pessoas em paridade com os animais. Somente uma fonte de rendimento privada e uma vida de lazer podiam proporcionar aos cidadãos uma vida de desfrute dos prazeres supremos que a música e a filosofia propiciavam.
Com a proliferação do cristianismo, as agruras do trabalho constituíam o meio apropriado e imutável para se expiarem os pecados de Adão.
Ao longo do tempo o trabalho vai ganhando outra conotação, não de agrura e sacrifício mas de virtude e grandeza.
hoje, e num contexto de crise e desemprego, acredito que as pessoas não estejam a filosofar sobre o trabalho mas sim em tentar arranjar um para fazer face aos problemas económicos das suas famílias.
Confesso que já fui um pouco obcecada por trabalho, realmente o ócio puro e duro, sempre me fez confusão e não estabelecer metas e objetivos profissionais criavam-me uma neura, até quando estava totalmente incapacitada fisicamente sonhava com a escola, os alunos...e ansiava regressar quase a qualquer custo.
Felizmente o tempo deu-me a sabedoria de percorrer outros caminhos, de ser útil, de ver outras soluções. Certo que não tenho em mim a preocupação de manter uma família, de ter não sei quantos compromissos financeiros, de não sonhar com uma mansão com piscina mais o carro x, y ou z. Mas sim, ter o suficiente, para viver o conforto de apreciar uma vida simples mas completa sem pensar muito no futuro.
Como diz Alain du Botton no seu livro Alegrias e Tristezas do Trabalho , influenciador de toda esta reflexão que eu queria pequena e acabou por ser extensa " Quando é que sentimos que um emprego tem significado? Quando nos permite gerar prazer ou reduzir o sofrimento dos outros."
Serão talvez poucas as pessoas que se sintam totalmente felizes, realizadas, compensadas, valorizadas com as suas profissões, mas o mundo e a vida tem tantas outras coisas possíveis...
Sem pretensões, da minha humilde pessoa, é só não fazer do trabalho o centro do universo. Entretanto celebre-se o dia do trabalhador.
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