domingo, 16 de novembro de 2014

sobre o Caminho*

Há quem considere a História cíclica, que ela se repete dada determinada  conjuntura económica, politica ou social. Dependendo de um contexto especifico há realidades que se repetem, e aqui se encaixa o grande chavão, usado mais ou menos genericamente pelos que estudam a história – conhecer o passado, para melhor gerir o presente e preparar o futuro. Não sei se não será demasiada pretensiosa ou redutora esta designação da ciência que estuda, acima de tudo, o Homem. O que sei é que conhecer o passado sempre me fascinou.
Quase me desviando do caminho a que me propôs, e recordando o passado, mais precisamente as aulas de idade média e o tema das peregrinações rumo a Santiago de pessoas de toda a Europa, ao ponto de marcar o quotidiano dos que viverem nesse tempo e dos que estavam por vir.
Entre os séculos XII e XIV, a peregrinação a Santiago fazia-se por vários motivos: a procura do milagre, o pagamento da devida promessa, a imposição pela igreja para punição de pecados graves, e a minha preferida, o do caminho como ascese empreendida com o objetivo de se purificar e obter a salvação da alma. Há que ter em conta o contexto de medo, próprio de um período de instabilidade e crise e sobejamente aproveitado pela igreja para “angariar”fieis e “assegurar” a sua salvação.
Assim existiam muitos caminhos, muitos peregrinos que demoravam meses ou anos a chegar ao seu destino, muitos crentes que repetiam o percurso dezenas de vezes, muitas isenções, benefícios e protecções, para os que chegavam ao local onde supostamente deu à costa, ( Padrão) o corpo do apóstolo Tiago, sepultado na majestosa construção românica de Compostela.
Já se percebeu que a minha rota está a ficar extensa de mais, defeito da história, que não nos deixa chegar ao fim, sem passar pelo que ficou pelo caminho. Não me alongo mais.
Há doze anos fiquei fascinada com o tema da peregrinação a Compostela, por conta da ascese, por tantos o terem feito, pelos símbolos, pela paisagem natural e construída que certamente se encontraria. Achei nessa altura que iria fazê-lo. Pouco depois surgem de novo as rotas organizadas, a divulgação da comunicação social, os testemunhos de quem o concretizou a cavalo, de bicicleta, a pé.
Os motivos são outros mas no fundo os mesmos. A procura, o encontro, a promessa, a aventura e a emoção. E eu a achar que mais dia menos dia, eu ia, eu queria. Mas não fui. É talvez das coisas que eu mais lamento não puder fazer, apesar dos exemplos que é possível. Não sei. A história repete-se, redescobre-se ou deixa-se para o futuro.
Cheguei. Foi difícil.
*inspirado nos peregrinos e na pequena "marca" que deixo no seu percurso;
* especialmente nos que sexta-feira me falaram dos seus 3 meses de caminho.

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