Depois de ler Anatomia dos Mártires de João Tordo, há dois anos, pensei que
da próxima vez em Beja teria que ir a Baleizão ver Catarina Eufémia. Lá estão
todos os símbolos e homenagens dedicados a alguém “para quem tudo pode ficar irremediavelmente perdido num único momento”
e o cenário (agora sem o trigo mas
pleno de olivais) em que Catarina Eufémia reivindicando trabalho e pão é
assassinada por um GNR que nunca foi julgado pelo seu crime. Coisas de um
regime sem liberdade. Momento trágico e ideal para se criar um mártir no meio
do Alentejo profundo e rural, mas fortemente politizado. Curioso é que este é o
único momento da história da ditadura portuguesa e dos movimentos clandestinos,
em que uns e outros estavam de acordo. A PIDE, por um lado propagando a sua
versão de que Catarina era militante comunista e assim estava justificado o seu
brutal assassinato; e o partido comunista (clandestino em 1954, mas com grande
implantação no meio rural) propagando precisamente a mesma verdade, sussurrada
na clandestinidade e gritada no pós 25 de Abril que Catarina foi militante do
partido e pela sua militância faleceu num campo de trigo de Baleizão.
Uma mártir eternizada pela dureza da
vida da época ou pela militância política? a resposta todos a podemos dar. domingo, 6 de setembro de 2015
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