domingo, 6 de setembro de 2015

catarina eufémia




Depois de ler Anatomia dos Mártires de João Tordo, há dois anos, pensei que da próxima vez em Beja teria que ir a Baleizão ver Catarina Eufémia. Lá estão todos os símbolos e homenagens dedicados a alguém “para quem tudo pode ficar irremediavelmente perdido num único momento”  e o cenário (agora sem o trigo mas pleno de olivais) em que Catarina Eufémia reivindicando trabalho e pão é assassinada por um GNR que nunca foi julgado pelo seu crime. Coisas de um regime sem liberdade. Momento trágico e ideal para se criar um mártir no meio do Alentejo profundo e rural, mas fortemente politizado. Curioso é que este é o único momento da história da ditadura portuguesa e dos movimentos clandestinos, em que uns e outros estavam de acordo. A PIDE, por um lado propagando a sua versão de que Catarina era militante comunista e assim estava justificado o seu brutal assassinato; e o partido comunista (clandestino em 1954, mas com grande implantação no meio rural) propagando precisamente a mesma verdade, sussurrada na clandestinidade e gritada no pós 25 de Abril que Catarina foi militante do partido e pela sua militância faleceu num campo de trigo de Baleizão.
Uma mártir eternizada pela dureza da vida da época ou pela militância política? a resposta todos a podemos dar. 

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