Vestiu-se sem saber que tempo fazia lá fora, quando pôs os pés na rua
percebeu que ia ser um dia daqueles de oscilações primaveris. Arrependeu-se ter
vestido aquela camisa branca, não tão branca quanto já fora, mas que servia
perfeitamente para vestir por baixo das camisolas e casacos de inverno. O calor
fê-la abandonar o casaco e a camisa sozinha deixou-a desconfortável. Percorreu
as ruas ao mesmo tempo que ia pensando, como podia ter escolhido outra roupa
naquela manhã. Como poderia ter cuidado melhor do seu cabelo, como se sentiria
nos saltos altos ou se tivesse posto o baton, o blush e o rímel. Perdeu-se dos
seus pensamentos quando uma nova onda de calor a evadiu. Riu quando pensou como
o seu termóstato deveria estar avariado. Voltou aos seus pensamentos. Pensou
estar a meio de um jogo cujas regras, sem propósito cumprido, se aproximam de
um fim que desconhece se irá ser glorioso ou não. Esquece tudo e volta a culpar a camisa. Não vê
a hora de livrar-se dela. Vai lavá-la e guardá-la até ao próximo inverno.