quinta-feira, 26 de maio de 2016

por falar em romanos

" Força-te, força-te à vontade e violenta-te, alma minha, mais tarde, porém, já não terás tempo para te assumires e respeitares. Porque de uma vida apenas, uma única, dispõe o homem. E para ti esta quase se esgotou, nela não soubeste ter por ti respeito, tendo agido como a tua felicidade fosse a dos outros. Aqueles que não atendem com atenção os impulsos da própria alma são forçosamente infelizes."

Marcus Aurelius - imperador de 161 a 180

domingo, 15 de maio de 2016

pentecostes *


* Óleo sobre tela - sec. XVIII - Museu Misericórdio do Porto

sábado, 14 de maio de 2016

vai o viajante # 8






Regressa o viajante ao seu relato. Do alto da colina em que está a Sé o viajante traçou o seu trajeto. Desceu pelo bairro tão típico, apreciou a Igreja dos Grilos, que lhe pareceu tão imponente e até exótica por estar literalmente encaixada naquela paisagem. Ouviu as mulheres a combinar como enfeitariam os altares dos santos para este domingo. Chegou ao ponto que o levaria a descobrir a igreja de S. Francisco, a mesma em que a rigidez e sobriedade do exterior (românico e gótico) contrasta com o interior soberbamente decorado com talha dourada, ao ponto de alguém a apelidar como a igreja de ouro. É curiosamente inquietante como numa igreja erigida por uma ordem religiosa mendicante, que nasceu para cuidar dos mais frágeis da sociedade, se transforma numa igreja escolhida, pelos homens de poder, para ali se sepultarem e poderem com isso, estar mais próximos da salvação divina. O viajante prefere o trabalho da pedra e a simplicidade do exterior mas não deixa de se impressionar com a talha que cobre as paredes, os altares, os retábulos e as abóbadas. No meio da exaustão barroca repara na pedra simples dos púlpitos com um símbolo em que fixa olhar, mas que ninguém conseguiu explicar, teceu a sua própria teoria e seguiu.  À sua frente vai o Douro cheio de vigor e o viajante decide descer até à Ribeira. Encontra uma vez mais o Infante D. Henrique e a casa onde nasceu. Aprecia o rio e a ponte D. Luís e as gentes que se passeiam e aproveitam o sol. Descansa e aponta tudo o que viu para não esquecer nenhum pormenor. Ainda está a pensar nos Franciscanos que no tempo das lutas entre absolutistas e liberais ( 1828-1834), tomam partido por D. Miguel, e após o cerco do Porto, D. Pedro retira-lhes os bens e entrega-os a quem esteve do seu lado. Recuperadas as forças é de novo altura de subir, sem querer,  encontra a Rua das Flores e sabe que há algo que tem que ver. A fachada da Igreja da Misericórdia, renovada por Nasoni, dando-lhe toda a cenografia e intencionalidade que o barroco exige. Logo de seguida entra no Museu da mesma entidade. É impressionante o seu espólio de pintura, escultura, ourivesaria, bens adquiridos ou deixados por quem usufruiu dos serviços prestados por tão poderosa instituição. O que mais agrada ao viajante é o encontro com uma pintura, recentemente adquirida, através de um corredor sinuoso que levava ao cofre e depois um grande pátio ( espécie de claustro) cheio de luz. Há por estes dias uma exposição sobre as recentes obras realizadas na igreja dos Clérigos mais um legado de Nasoni. O viajante está satisfeito com tudo que viu. Olha o relógio e vê que são horas de partir. Sabe que vai regressar. O viajante regressa sempre. 

sábado, 7 de maio de 2016

e esta é a canção mais feliz*



Deolinda de Jesus - Dar e Receber 1984

quarta-feira, 4 de maio de 2016

amadeu souza cardoso


Inconstantemente insatisfeito era assim que se descrevia Amadeu Souza Cardoso. As suas obras cheias de cor anunciam um novo tempo na arte, em que não se retrata uma realidade mas essencialmente aquilo que os pintores sentem e querem fazer sentir, através de movimentos de cor e traços mais ou menos fortes e formas geométricas mais ou menos evidentes. Pode ser inquietante ou incrivelmente apaziguadora. Há muito pouco tempo passou um documentário/ filme na rtp sobre o génio deste português. Eu conhecia algumas das suas obras mas não a sua vida ali documentada. Fiquei fascinada e rendida à sua arte, que a certa altura produziu tão ferozmente como numa ânsia de exprimir, enquanto havia tempo, toda a inquietação da sua alma. Pena de sermos um povo que só reconhece os seus grandes autores quando os de fora o fazem*. Pena a 1ª Guerra Mundial o ter obrigado a regressar a Manhufe. Pena a sua família, ser tão conservadora,  que queimou tantos dos seus desenhos. Pena ainda se desconhecerem o paradeiro de tantas das suas obras...e tão boa esta ideia dos que através da arte ficam para a eternidade*.

" a cor torna-se matéria" 

* Exposição de obras no Grand Palais em Paris onde viveu;
* Cozinha Casa de Manhufe - Amarante : onde nasceu a 14 Nov. 1887 e morreu a 25 Out. 1918;
* Contemporâneo e amigo de Duchamp, Modigliani, Picasso, Matisse, Kandisky.

domingo, 1 de maio de 2016

vai o viajante # 7







O viajante tem andado desanimado, como nunca pensou que estaria...o inverno foi longo e cinzento demais ao qual se juntou uma espécie de vazio que não sabendo explicar, tem tentado preencher de diversas formas. Hoje finalmente o sol permitiu que sobre carris o viajante visite uma cidade próxima da sua, para ver uma série de coisas que há muito estavam apontadas no seu caderno de notas soltas. A viagem é longa, para a falta de paciência do viajante, por estes dias mas com certeza valerá a pena. Mal desembarca na estação de S. Bento depara-se com os azulejos com momentos importantes da história de Portugal. Procura a chegada à cidade de D. Filipa de Lencastre em 1387 para casar com o rei, que foi mestre de Avis e que as gentes da cidade vieram saudar e acolher como Rainha. O mesmo rei que depois de ganhar batalhas, estabilizar o reino, erguer obras monumentais, enriquecer a nobreza e reforçar alianças lança-se juntamente com os seus herdeiros na Tomada de Ceuta ( 1415). Ali se vê num outro painel o Infante D. Henrique, nascido naquela cidade do Porto, tornado cavaleiro (como os seus irmãos) numa batalha que inicia um novo tempo para Portugal. O viajante dá conta que nunca tinha visto com estes olhos D. João. Na estação estão ainda outras cenas como a Batalha dos Arcos de Valdevez e a famosa representação em que Egas Moniz se entrega com a sua família ao imperador de Castela e Leão pelo incumprimento de D. Afonso Henriques, a quem educou, ter faltado com a promessa de vassalagem. Estes painéis são ladeados por outros com cenas da vida rural e campestre das regiões unidas pelos carris. Quando deixa a estação sente a grandeza e monumentalidade desta cidade.  O viajante está entusiasmado e com sede de conhecer a sé catedral, a mesma em que casaram D. Filipa e D. João. Conhece-a dos livros e da televisão mas não a pensava tão próxima. Dali a vista sobre a cidade é impressionante, a torre de Nasoni sobressai entre as construções, as ruelas que descem à ribeira vislumbram um modo de viver, e o Douro engrandece o horizonte...dali o viajante orienta a sua visita a outros pontos da cidade a que não pode deixar de ir. Antes há que entrar na sé, como quase todas as catedrais, uma mescla de estilos arquitectónicos e decorativos que a vontade dos homens de poder vão alterando. O viajante impressiona-se com a galilé lateral, tão pouco comum, atribuída a Nasoni. No interior procura a Capela do Santíssimo, que segunda a lenda foi pintada com cal para esconder dos franceses invasores, tamanha riqueza em prata. Os franceses não a encontraram mas na sua passagem levaram outras riquezas deste Porto. 
O viajante não acabou o seu relato volta em breve para preencher um pouco mais de vazio.