quarta-feira, 27 de novembro de 2013

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

para quem adora palavras # 4

" Mas, em questão de mitos, o homem tem muitos recursos. Perdeu a lua? Muito bem. Há por esse céu for estrelas e planetas onde cada um de nós pode fazer pouso com a alma gémea: é só consultar o catálogo astronómico. Não é oo coração aquele orgão sagrado que se agitava, amoroso, no peito de Querubim? Não tem importância. Dos pés à cabeça, a toda a largura dos braços, neste invólucro que contém a máquina maravilhosa do corpo - em algum lugar há-de estar a morada dos afectos.
E daí talvez não. Porque às vezes acontece ser o amor tanto que se dirá não caber ele dentro da pele, na carne, no sangue, nos ossos, na alma que dizem lá estar. Então, descobrimos, contra o ensino dos mitos, que somos nós, e só nós, afinal, em corpo inteiro e alma acompanhante, a morada do amor."

José SaramagoDeste Mundo e do Outro / Crónicas

domingo, 24 de novembro de 2013

terça-feira, 19 de novembro de 2013

palavras com imagem

" É inevitável a fórmula: o sol que desce no horizonte é assim a modos uma vida que se acaba. Há também o recurso ao lirismo ao alcance de todas as quadras: o sol afunda-se num mar de sangue, envolvido na mortalha rubra das nuvens, lançando espadas de fogo. Espíritos mais cientificos ou mais presos às leituras de huventude arregalam os olhos para apanharem o último raio de luz - o tal raio verde de que falou Júlio Verne.(...)
É um momento em que os nossos males perdem importância. Inscrevem-se numa grandeza cósmica, apocalíptica ( cá vem a rétorica de ocasião) - e tudo quanto é nosso se torna insignificante. Sai-se conformado de um pôr-do-sol, resignado e, de algum modo, humilde.(...)
Simplesmente, o mesmo sol que nos levantou os alçapões da melancolia e nos mediu com um metro demasiado curto para o nosso orgulho surge no dia seguinte, violento, agressivo, mostrando a seco e a cru as arestas vivas da nossa condição de seres desajustados, insatifeitos, inconformados. Então, sem as emoliências da luz arrastada, descobrimo-nos outra vez no corpo-a-corpo com a realidade - e a luta recomeça. O que doía volta a doer. Pois assim seja.(...)
Tem o sol isto de bom: é mestre de todas as lições. Pai da nossa vida, companheiro, filósofo que nos conhece desde sempre, espetador de misérias e alegrias: o sol.
Vai agora desaparecer. Até amanhã. "

José Saramago - Deste Mundo e do Outro/ Crónicas

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

para quem adora palavras # 3

" Mas, enfim, os dias passam , passam os anos, a terra faz o seu giro obediente, e nós acabamos por acreditar que aparamos algumas migalhas da eternidade. É isso que nos ajuda: assim vamos fazendo projectos para amanhã, para o verão que ainda bem longe."

 José Saramago- Deste Mundo e do Outro/ Crónicas

terça-feira, 12 de novembro de 2013

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

vae victis


S. Martinho de Tours

Se eu tivesse de cortar ao meio o meu casaco,diz ele, “para o repartir com um miserável nenhum de nós ficaria beneficiado. Ambos morreríamos de frio.” E porque é que havia de acontecer isso aos dois? Não seria melhor que um se aquecesse? Uma conclusão impecável. Se eu falasse nisto ao sr. Fanzel ( sem lhe falar no pequeno-almoço) ele certamente concordaria. A vida é dura. Vae Victis! Os miseráveis têm que sofrer.
Saul Bellow - Na Corda Bamba

sábado, 9 de novembro de 2013

para quem adora palavras # 2

" O Mundo gira sobre as palavras lubrificadas com óleo de paciência. Os cérebros estão cheios de palavras que vivem em boa paz com as suas contrárias e inimigas. Por isso as pessoas fazem o contrário do que pensasm, julgando pensar o que fazem. Há muitas palavras."
 
José Saramago - Deste Mundo e do Outro / Crónicas

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

momento extremamente pink*

* Filipe  Duarte, que geralmente não faz parte das novelas da tvi, mas que nesta é o - Belmonte, com muita categoria.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

terça-feira, 5 de novembro de 2013

para quem adora palavras # 1

 " É este o defeito das palavras. Assentámos que não há outro meio de nos entendermos e explicarmos, e acabamos por descobrir que ficamos a meio da explicação, e tão longe do entendimento que bem melhor teria sido deixar aos olhos e ao gesto o seu peso de silêncio. Talvez mesmo o gesto seja de mais. No fim de contas, ele não é outra coisa que o desenho de uma palavra, o caminhar de uma frase no espaço."

José Saramago - Deste Mundo e do Outro / Crónicas

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

sábado, 2 de novembro de 2013

Vêm de dentro

Vêm de dentro, e sem fim, como as plantas
que ao nascerem ainda não soubessem
a que as chuvas se destinam - ou as geadas.

E crescem pelos dias, recolhidos na vastidão
dos prados, no som de labaredas inesperadas
e das enxadas que revolvem as margens.

Vêm de dentro, e sós, essas palavras - como
lugares de acaso, como chuvas despenhadas
ao ritmo regular de funda lavra.

João Rui de Sousa

sexta-feira, 1 de novembro de 2013