sexta-feira, 29 de junho de 2018

há treinadores e treinadores

Os mundiais de futebol tem sempre aquela capacidade mágica de unir todo o mundo à volta de um acontecimento desportivo de entretenimento, onde as pessoas com a mesma facilidade se enervam e emocionam.  Menos aquele mundial das vovuselas.  Eu adoro os hinos, as bandeiras, as claques, o fair play dos adeptos que fazem festa e depois recolhem o lixo, as comemorações dos golos, as grandes defesas. Não gosto dos árbitros que cedem à pressão do var, nem de treinadores com vontade de lavar roupa suja, e acho um bocado forçado os que apelam a correntes de mãos dadas. 
Sobre Tabaréz, treinador do Urugai, só hoje li no diário de noticias que foi  diagnosticado com SGB - CIDP, somos 1 num milhão e um deles é treinador. É admirável como a vontade combate ou contorna todas as adversidades. 

quarta-feira, 27 de junho de 2018

vai o viajante # 17







Chega ao viajante a  Almeida, este destino compõe um outro que se publicita como 12 - uma referência às aldeias históricas que são o grande motivo desta viagem. Almeida é a  praça-forte de Portugal durante a idade moderna, apresenta uma muralha com a forma de uma estrela de 12 pontas, que ganhou forma em 1640 e que foi a grande defesa das terras das beiras contra as investidas dos espanhóis durante a guerra da restauração. Os exércitos franceses acabaram com a sua fama de inexpugnável e a invasão providenciou uma lenda com a intervenção divina em forma de neve, que consolaria os locais e apagaria o fogo de destruição deixado pelos franceses. Mas a aldeia é muito mais que a história militar é toda a paisagem que a envolve e um tempo que corre com calma. Pela porta da muralha segue para um outro destino. Estava hesitante se os 20 km que faria em sentido oposto valeriam a pena. E como valeram. A paisagem é um imenso mar verde, um tapete de vida, uma manta viçosa bordada aqui e ali por lavandas e outras flores selvagens. Um regalo para a vista e um conforto para a alma. Que poético vai o viajante! até que numa pequena colina avista Castelo Rodrigo . Gosta do nome. Dois pequenos torreões dão as boas-vindas a quem chega. Entra pelo porta do Sol e imediatamente parece ter entrado noutro tempo.  No casario em pedra misturam-se características medievais, manuelinas, árabes e nota-se a presença judaica ( tão frequente nestas terras raianas), vai ao castelo em ruínas, passa no adro da igreja, vê a cisterna, o pelourinho..aprecia a paisagem em volta e volta a surpreender-se. Fantástico. Dirige-se de novo à porta do sol, onde há pouco deixou passar a história da aldeia e que agora lê mas o que retêm tem que ver com um rei que muito admira. Então durante a crise de 1383-85 Castelo Rodrigo ficou do lado de Castela, como castigo D. João I ordena que o brasão ficasse com as armas reais invertidas e a vila dependente de Pinhel. Só D. Manuel manda repovoar a vila e refazer o castelo. Curiosamente uma outra vez posta à prova apresenta-se bastante activa na guerra da restauração da independência.  Ali ao lado a Casa de Chá onde quem "reina" é um françes..que dá provas das delicias da região amêndoas e figos secos. Leva algumas para o caminho. E segue para um lugar que de nome é formoso.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

hit tipo de verão



li algures, que depois dos 30 anos, as pessoas não reconhecem as músicas tipo hits.. e eu pensei ahhhh não basta ouvir rádio, que não a rádio sim, e está tudo actualizado. Só que não. A Dona Maria chegou até mim num sarau cultural de alunos do 1º ciclo em que pude retornar à infância com a história da velhinha e da cabaça ( que a propósito era a única que o meu pai sabia contar) e para o fecho um jovem com a sua guitarra soltou a música e foi o delírio das crianças a cantar aos berros e a saltar para o palco..eu o que é isssssstooooooo?? pelos vistos até já nem é assim tão actual..mas só agora é que descobri.

domingo, 24 de junho de 2018

verão

o dia do santo percursor, do aniversário da mi, dos 37 º graus, do desmaio em directo do presidente marcelo, das sardinhas e do manjerico, do dia mais longo, é o dia primeiro do solstício de verão e nada melhor do que estar na praia para o receber. O céu azul, o mar calmo a convidar ao mergulho, a água nada fria, a toalha estendida, o livro aberto, na pele o cheirinho a protetor solar..e fechar os olhos e ouvir só o som da onda a quebrar devagar..tão bom poder entrar de novo no mar, tapar o nariz e ir ao fundo, mergulhar a cabeça e nadar.

De todos os cantos do mundo
Amo com amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.

Shophia de Mello Breyner Andresen - Poesisa 1944

terça-feira, 12 de junho de 2018

vai o viajante #16





Chega agora o viajante a Viseu..nunca lá tinha estado. É a terra de Viriato, sabe-o desde a escola primária, mas entretanto esqueceu-se da atitude combativa que teve para com a ocupação romana das terras lusitanas ( entre 147 a 140 a.C) . Era líder de uns quantos focos de resistência e travava duras batalhas das quais sempre saía vencedor. Só não contava ser traído e assassinado ( em 139 a. C  pelos que lutavam a seu lado a troco de um grande prémio recebido em Roma). Curioso agora pensar nos louvores e estátuas que se erguem em honra de alguém  que havia sido "inimigo". Interpretações da história. A sua passagem por Viseu é breve e apesar de tanto ter que ver, o viajante vai no sentido da catedral, atravessa o Rossio,  a cidade parece-lhe familiar, e encontra a praça de D. Duarte - o rei Eloquente ( que aqui nasceu em 1391), e por trás da sua estátua um belíssimo varandim que compõe o edifício da catedral. A história desta  catedral  é  em tudo semelhante a outras. Remonta aos primórdios do reino, é intervencionada ao longo dos séculos por vontade de quem tem poder. O que se destaca e surpreende o viajante são as abobadas manuelinas das naves, obra decorrida entre 1505 e 1516 atribuída a quem? a quem ? João de Castilho, quem mais!! Aqui pensa o viajante nesta curiosa situação que tem que ver com a atribuição das obras aos seus hipotéticos autores e assim concluí : toda a obra arquitectónica e decorativa do gótico final e do manuelino pertence a Castilho. Toda a pintura do século XVI nos cânones do renascimento são de Grão Vasco e toda a obra barroca do norte é do italiano Nasoni, no caso do rococó André Soares!!! Certo que há obras assinadas, documentos e livros de assento, encomendas e encomendadores que anotavam e registavam..mas também há coisas que se perdem e características que se assemelham e por conta disso ganham mais obras os autores de mais fama. Quase que se perde o viajante de onde vinha..Ah sim as abobadas, num jeito manuelino que resulta numa grande corda com vários nós, como nunca havia visto. Depois sobre o altar-mor uma pintura do século XVII com figuras meio humanas, meio animais, repleta de volutas, flores e pássaros, à qual um grande especialista de arte, do nosso tempo, denominou por estilo grotesco. O contraste da pintura com a rigidez da pedra com nós, resulta numa maravilhosa cobertura de toda a catedral. Deseja o viajante que saibam todos os que por aqui passam olhar para o ar. Há ainda um elemento aqui que surpreende o viajante, uma relíquia de S. Teotónio, que foi o primeiro santo português. Segundo a informação ao lado da relíquia, Teotónio foi sacerdote, conselheiro de D. Afonso Henriques. Mais foi apurar o viajante o sacerdote nasceu em valença do minho, fez duas viagens à terra santa que o inspirou a fundar o mosteiro de santa cruz de Coimbra, e sempre recusou um maior poder como o cargo de bispo de Viseu. Resumidamente é isto. De frente para a sé está a igreja da misericórdia, que dentro não precisa de tempo para ser vista. Tem que partir o viajante, o dia já vai longo,  atravessa a porta do Soar com o seu arco de ogiva quebrado, de onde partia a muralha da cidade à qual deseja um dia voltar.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

vai o viajante #15







o viajante está contente, conseguiu fazer um plano da sua viagem, calculando os tempos e assinalando o que tinha mesmo que ser visto, mas sem ser demasiado rígido afinal as mini férias tem que ser aproveitadas.  Vai agora na estrada, com vários destinos em mente, e dá-se conta de como é retemperador o caminho que liberta dos pensamentos, dizendo melhor de qualquer pensamento.
A primeira paragem é feita em Amarante, há muito que deseja encontrar Amadeu Sousa Cardoso, mas mal entra na cidade percebe que vai perder tempo. Estava tudo enfeitado para as festas do Junho. Não podia imaginar que o novo mês, preste a começar, tinha direito a romaria por estas bandas. Na igreja de S. Gonçalo decorria uma celebração e o museu de Amadeu estava fechado. Contentou-se assim o viajante com a vista sobre o rio Tâmega e com o exterior da igreja de S. Gonçalo extremamente limpa. Há algo nas pedras limpas que lhe soa a vazio e que lhe desagrada um pouco. Enfim há que seguir para outro destino e um dia voltar para encontrar as obras de Amadeu. Lamego é o destino mas até lá é a paisagem verdejante das vinhas nos socalcos que se impõe. O viajante já havia por lá passado faz poucos anos, mas não deixa de se impressionar com a mão dos homens na natureza. A Régua é mesmo ali ao lado mas não se desvia agora do seu trajeto. Encontra Lamego muito diferente daquilo que ainda restava na sua memória de infância, numa ida em excursão à serra da estrela da qual há uma videocassete cheia de momentos hilariantes. É bonita a cidade, uma grande praça retangular que une a cidade a um grande escadório e santuário. De um outro lado um ruína transformada em castelo ( que agora cidade sem castelo não é cidade que se preze) e em baixo o antigo paço e a catedral. A sua fachada remete para o gótico final com as arquivoltas e os corocheús ricamente decoradas em gosto flamejante. Sagrada que foi em 1175 apresenta uma mescla de estilos decorrentes do tempo e da vontade dos seus bispos. Ainda no exterior a torre indica a antiguidade românica, com as suas ameias, a lembrar as igrejas tipo fortaleza. No interior a prova que estes edifícios continuam a alterar-se, um altar do nosso tempo com um tema ressuscitado por quem decora lugares santos - a árvore da vida.  Mas o que fez o viajante procurar este lugar foi Nasoni . Há uns tempos deteve-se nas obras do italiano que tantas marcas deixou na cidade do Porto. Mas esta é diferente, é um mar de cor por cima das nossas cabeças. Encantado deixa a sé e almoça mesmo em frente e perto de ir ao Museu, onde sabe que irá encontrar vários tesouros.  Um deles tem como autor Vasco Fernandes o pintor de renovação ou renascimento do século XVI, mais  conhecido por Grão Vasco. No museu figura um políptico que antes decorava o altar-mor da catedral e um Quo Vadis totalmente restaurado. Entre os chamados tesouros destaca-se as obras de André Reinoso, especialmente um pequeno mas adorável S. José com o menino, já conhecido do viajante. Segue para o mais invulgar tesouro, um conjunto de  tapeçarias que surpreendem pelo seu excelente estado de conservação, pois datam de 1525-1530 e por retratarem a trágica história do Rei Édipo e de sua mãe Jocasta , numa encomenda do bispo de Lamego, a um artista flamengo,  para decoração do seu paço. Quase a terminar a visita uma série de painéis de azulejos de 1670, com uma decoração inspirada nos panos da índia e que pertencia a um palácio de Lisboa tendo a sua proprietária doado os painéis ao museu para evitar que se perdessem. O viajante vai feliz porque há muito queria ter vindo aqui, a este museu a esta cidade. Apesar de não fazer grande questão, sobe ainda ao santuário vê o grande pátio barroco mas não se demora há ainda muito que ver.