quinta-feira, 21 de março de 2019

dia da poesia*

* poesia ao centro no hospital; 
* diz que não era para mim;
*mas eu acho que sim. 

quarta-feira, 20 de março de 2019

12

12 é só um número, este serve para  contabilizar o tempo. O mesmo que passou vagarosamente e agora voa, o mesmo que não controlamos, o mesmo que as pessoas adoram evocar como desculpa quando não querem ir/estar/fazer alguma coisa. O tempo aqui é só para justificar a experiência no tema força de vontade. No P3 Rui Machado, escreveu Força de Vontade, o caraças  provando que ela não é de todo o factor determinante para alguém atingir objectivos a que se propõe.
Este blogue também vai longo e acho que já aqui falei dele , naquela frase que toda a gente diz : " é preciso é força de vontade"...entre desejo de melhoras e o "pra vir é depressa mas pra ir..." com um ligeiro trhiiiiiichhhh e uma torção facial moderada (agora pensando nisto e descrevendo parece que já vi a cena em vários filmes antigos portugueses). Cabe agora aqui uma expressão com a qual culmina tudo e que serve para várias ocasiões - paciência . Avante.
Eu ficava meia em choque quando usavam essa da força comigo porque não achava válido que alguém que estivesse mal não tivesse vontade de ficar bem. Achava que isso da força era intrínseco, que  não era necessário procura-la por aí...Ao fim destes anos sei. Sei que há gente, sem culpa, que não a encontra. Acho que são poucos mas para estes será com certeza mais difícil. Como refere o autor " há gente cheia de força de vontade em suas casas".  Porque a força de vontade teoricamente move montanhas, mas não trepa degraus não abre portas, não entra num transporte público, não faz cumprir a lei. 
é o caraças. 

terça-feira, 19 de março de 2019

azul


Acordei e senti-me velha. No espelho vi-me velha. Onde foi o sentido da jovialidade que me acorda todos os dias? Deixou-me hoje. Só por hoje, em que deixei entrar um raio de tristeza, misturado com o vazio do azul. O azul tem por regra o conforto, mas hoje não. Hoje aumenta o vazio da existência, onde a satisfação e alegria não entram. Nos outros dias, que não hoje, a melancolia é afastada e a busca da simplicidade enche o coração. Mas hoje não. Hoje o céu não é cinzento, mas azul vazio, azul inquietante, azul que envelhece.

* vicent van gogh - oliveiras com alpilles ao fundo, 1889

sexta-feira, 8 de março de 2019

certifiquem-se que usam pó para fixar a maquilhagem

O artigo de opinião de Marisa Matias no DN, faz uma associação entre um conselho dado num programa emitido pela televisão pública marroquina (como disfarçar marcas de agressão com maquilhagem) na véspera do dia internacional pela eliminação da violência contra as mulheres . Nem de propósito a associação de juízes de portugal, propõe um workshop de maquilhagem para assinalar o dia 8 de março - dia internacional da mulher. O mesmo em que se assinala ou recorda mulheres que morreram por lutarem pela igualdade de condições de trabalho.
Curioso como tudo pode ser disfarçado. A pequenez dos que não respeitam os seus pares, a mesquinhez dos que não a punem e a leveza com que tudo pode ser branqueado ou melhor dizendo maquilhado.

quinta-feira, 7 de março de 2019

these are a few of my favorite things






a tua voz chega com a luz
e com tudo o que a pode entender
pega no passado e limpa-o
dá-lhe a transparência do presente

o nosso presente cada dia. 
sophia de mello breyner andresen

terça-feira, 5 de março de 2019

vai o viajante #18


O viajante tinha prometido que voltava a Amarante para  ver Amadeu e voltou. O museu que acolhe algumas das suas obras é fantástico e acolhedor. Por conta das celebrações do centenário da sua morte, estavam expostas duas obras vindas da Fundação Caloust Gulbenkien: a cosinha de manhufe e a máscara de olho verde. O viajante sentiu que ganhou o dia. Além de Amadeo há obras extra do movimento modernista português e nomes incontornáveis como júlio pomar, paula rego e uma descoberta recente para o viajante João Vieira ( que inspirado nos movimentos franceses, associa poesia e pintura). Recordou um poema inspirador deste artista : *

La chair est triste, hélas ! et j’ai lu tous les livres.
Fuir ! là-bas fuir ! Je sens que des oiseaux sont ivres
D’être parmi l’écume inconnue et les cieux !
Rien, ni les vieux jardins reflétés par les yeux,
Ne retiendra ce cœur qui dans la mer se trempe,
Ô nuits ! ni la clarté déserte de ma lampe
Sur le vide papier que la blancheur défend,
Et ni la jeune femme allaitant son enfant.
Je partirai ! Steamer balançant ta mâture,
Lève l’ancre pour une exotique nature !

Un Ennui, désolé par les cruels espoirs,
Croit encore à l’adieu suprême des mouchoirs !
Et, peut-être, les mâts, invitant les orages,
Sont-ils de ceux qu’un vent penche sur les naufrages
Perdus, sans mâts, sans mâts, ni fertiles îlots…
Mais, ô mon cœur, entends le chant des matelots !

Viu tudo e voltou de novo a Amadeo. Seguiu a sua cronologia, a vida em Manhufe, o apoio do tio, o  estudo de belas-artes em Lisboa, a partida para Paris, o casamento com Lúcia ( fiel depositária da sua obra)  o regresso ou a guerra e a morte em Espinho.
O viajante lembra os tempos de história de arte com uma professora muito querida mas muito fã do barroco e pouco conformada em ensinar, no semestre seguinte, arte contemporânea. Valeu-lhe um outro encorajamento para se confrontar com a complexidade e valor das cores e das formas. Amarante fica. A viagem continua... em retrocesso cronológico. 

* máscara de olho verde, 1915
* stéphane mallarmé, 1865