sábado, 31 de dezembro de 2016

2016























Através do teu coração passou um barco
Que não pára de seguir sem ti o seu caminho

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

vai o viajante #14








Sonho que sou poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo e que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
    
O viajante volta a Florbela. Mais tarde terá tempo de ler a opinião de Claire Leron, sobre esta poetisa que manteve durante toda a sua vida uma ansiedade sem limite pela vontade de amar e ser amada. Vai o viajante percorrer com calma as ruas da vila, aprecia o artesanato alentejano, vê um mar de turistas a invadir o paço como um rebanho com um pastor na frente. Passeia-se e regressa ao Paixão para o almoço. Aproveita que está perto e encontra novo destino. Monsaraz. Deixa Vila Viçosa com a certeza que na imensidão do Alentejo, que agora conhece melhor, este era um local onde poderia viver. E eis que na planície se ergue um castelo e vila muralhada. As casas são de um super branco e avistam-se ao longe. O viajante não se preocupa com os edifícios aprecia as ruas íngremes e estreitas, observa uma ou outra igreja, mas as ruas levam-lo ao castelo, onde há uma espécie de arena, que faz lembrar um anfiteatro romano. Mas lembra-se que esta terra é raiana e aqui a tradição é a festa dos touros. Os cartazes confirmam que ainda há pouco houve ali uma corrida. No cimo de escadas íngremes, o viajante é compensado pelo seu esforço. O Alqueva. É o verdadeiro oásis no meio do deserto. Fantástico. Contempla e parte até Évora. Volta ao templo de Diana, admira a catedral. Está contente consigo  porque sabe o que quer ver ali. Ao lado é dia de inauguração de um espaço cultural de onde emana o som do cante alentejano. O viajante encontrou em Évora palavras que lhe agradaram e com elas termina a sua viagem. O passado é prólogo. 

sábado, 24 de dezembro de 2016

natal *


* Menino Jesus Salvador do Mundo -  Josefa de Óbidos, óleo sobre tela, 1673

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

vai o viajante #13




Na estrada entre Estremoz e Vila Viçosa as jazidas de mármore lembram ossos amontoados, nunca vira nada assim. A vila confirma o seu nome e o viajante adora. O céu é de um azul intenso. Ao aproximar-se o fim do dia as andorinhas voam de encontro ao casario onde tem os seus ninhos . Há uma pequena avenida que se inicia com uma igreja  e termina no castelo. Para lá do castelo e das suas muralhas há tanto ainda que ver. A igreja de Nossa Senhora da Conceição, fundada como Nossa Senhora do Castelo por D. Nuno Alvares Pereira, a quem D. João IV entregou a coroa de Portugal em 1646.  O museu de caça, que o viajante não apreciou muito apesar de entender o seu valor, o museu de arqueologia onde se reúnem achados de outros tempos e preservadas memorias. Do pequeno torreão do castelo a vista sobre a vila é fantástica, serena e majestosa quando se põe os olhos no paço ducal edificado com a mais nobre matéria prima da região – o mármore. Desce e encontra Florbela Espanca, vê a casa onde nasceu e a sua última morada e compra uma biografia da poetisa. Vai guardar a leitura para mais tarde. É tempo de fazer uma paragem para jantar e uma alentejana com accent français indica o restaurante O Paixão, com a devida palavra pass para aceder às delicias da gastronomia local.  As migas de tomate e peixe frito da D. Etelvira foram o verdadeiro pitéu. Debaixo do céu já pintado de estrelas o viajante vai até à praça do paço, onde D. João IV se apresenta no seu cavalo, como quando partiu de Vila Viçosa para Lisboa e dar inicio uma nova era para a monarquia portuguesa interrompida pela crise dinástica de 1580, com o desaparecimento de D. Sebastião, e consequente domínio filipino. 1º de Dezembro de 1640 repõe-se a independência. Desde meados do século XIX, passando pela Primeira Republica, Estado Novo e Democracia, Portugal comemora esse dia, apesar da maioria do seu povo, desconhecer o que aconteceu, até um certo governo o eliminar do calendário festivo.Teria sido por esse desconhecimento? Ai não… parece que teve que ver com problemas de produtividade e superação de crise. Não importa, houve um sistema tipo geringonça que quis repor a comemoração desta data. Viva a Independência!!!Geringonças à parte que metade desta terra pertence à actual Casa Real de Bragança, o melhor é não misturar sistemas, e regressar à rua de Florbela para descansar, o dia foi intenso, antes de dormir o viajante folheia as primeiras páginas do livro que comprou e lê:

Minh´a alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver
Pois tu és já toda a minha vida.

Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história, tantas vezes lida!

(…) 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

vai o viajante #12





É preciso não deixar para o ano o que se pode escrever hoje. Há que organizar as notas soltas que estavam em falta. Vai o viajante para sul pelo interior. Ainda não sabe mas vai passar por terras de escritores. Passa ao lado de Constância, vila que em 1547, recebeu Camões. Vê a indicação para a Golegã, onde gostaria de ir mas numa outra ocasião. O seu caminho leva-o a Abrantes e sem esperar está em frente ao quartel militar de Abrantes. Deteve-se para uma curta visita, uma recordação de estada e de partida rumo a um cenário que marcaria para sempre toda uma geração de portugueses. Segue viagem que o destino é mais a sul. Numa paisagem algo hostil passa Galveias, terra de um escritor que deu nome a um dos seus livros. O viajante lembra-se que já tentou ler uma das suas obras mas não conseguiu. Segue a sua viagem pelas terras de fronteira marcadas por fortificações de defesa. Gostava de parar em todas mas não há tempo, há que chegar a Estremoz. A paisagem é marcada por uma colina com uma alta torre de mármore rosa. Ali houve um castelo e um convento transformado em pousada, e voltada para a torre que foi sua D. Isabel, a Rainha Santa, que lá morreu em mais uma das suas missões conciliadoras. Partiu de Estremoz para Coimbra onde desejava ser sepultada, espalhando na sua última viagem o perfume de rosas. Tudo isto contado apaixonadamente por uma senhora que ouvia rádio e fazia terços em croché na igreja de santa Maria, onde obviamente não faltavam referências à santa que foi rainha de Portugal. O viajante já conhecia esta e outras histórias de D. Isabel mas ouvi-las com o entusiasmo e doçura no sotaque de alguém que nunca saiu do Alentejo é outra coisa. Na mesma praça há uma outra igreja, transformada em centro de exposição dos bonecos de Estremoz, com uma belíssima galilé. E depois nas costas de D. Isabel a imensidão da planície dourada e num ponto mais alto o vislumbre de Evoramonte. Tempo agora de descer ao Rossio, procurar a igreja de S. Francisco, e encontrar tudo o que está contado pelo seu guia. Mesmo em frente, uma fonte com uma estátua de Saturno, a que os populares chamam praça da gadanha. Por baixo da estátua uma inscrição que o viajante acha perfeita para a vida, o tempo e aquele espaço “corre o tempo velozmente”. Descansa ali um pouco, com a sensação de clareza e frescura que a água transmite. Volta para a estrada, não muito longe dali encontrará outra terra que há muito deseja conhecer..a vila viçosa. No caminho não consegue deixar de pensar na vida de D. Isabel, em todas as vezes que já se cruzou com ela, na sua origem aragonesa, em todas as suas viagens, na sua função pacificadora no meio de guerras pelo poder.

“ Na vossa mansidão, Senhora, nunca deixou de haver rebeldia” – D. Dinis sobre D. Isabel

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

banda sonora*



* uma das maravilhas do cinema

sábado, 3 de dezembro de 2016

72*


" O facto é que já há muitos anos criei uma imagem muito minha, que não sei se será normal, mas que me agrada. A minha maior preocupação é agradar a mim mesmo"  António Variações, 1982

* Fiscal - 3 dezembro 1944

novembro



sábado, 26 de novembro de 2016

a disfuncionlidadade

A assembleia da república entrou em caos num debate da especialidade, que visava a treta da cgd e blablabla até que o secretário de estado lembra-se de explicar como se ninguém estivesse a perceber. Vira-se ao deputado que o questiona tipo se não percebe é porque está a sofrer de uma disfuncionalidade cognitiva temporária. A bancada parlamentar reflete um ou dois segundos e como que lhe servindo a carapuça explodem em vaias, batem com as mãos na bancada, uuuuhhhh, vergonha, vergonha, disfuncional é o senhor, uuuuhhh, peça desculpa, peça desculpa..e o outro lá diz que não era sua intenção. É o circo na casa da democracia, a mesma de onde foi expulsa uma cidadã, por ter chamado mentiroso ao antigo pm, por conta do seu alegado esquecimento de prestações de segurança social. Metes Nojo, disse ela . Foi levada a tribunal e o juiz aplicou-lhe uma multa por ter ultrapassado os limites da liberdade de expressão. Limites tem a minha paciência. Nojentos.

*tenho que deixar de ver o artv 

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

vai o viajante #11








Há muito que o viajante tinha no seu bloco de notas de soltas, que quando tivesse próximo, não podia passar sem conhecer a vila medieval de Ourém. Realmente é quase um desprezo, não conhecer uma vila que está num alto monte, que mais parece uma ilha que se elevou da terra envolta numa planície verdejante. O viajante adorou percorrer as ruas desertas mas ao mesmo tempo com vida. Uma vida de quem já por ali passou. E são imensas as referências como a D. Nuno Alvares Pereira – o condestável, 3º conde de Ourém está por toda a parte. Mas a vila é antiga e nela viveram judeus, até ao édito de expulsão por D. Manuel em 1496, e muçulmanos e desse tempo há uma lenda que o viajante achou fantasticamente elucidativa. Então, no tempo do conquistador D. Afonso Henriques, havia um valoroso cavaleiro Gonçalo Henriques, conhecido por “ Traga Mouros”. Estando nas suas conquistas contra os mouros às portas de Alcácer do Sal, o jovem cavaleiro avista numa das torres de um castelo, uma princesa de incomparável beleza, chamada Fátima, que claro estava prometida por seu pai ao primo Abu. Chega a noite do confronto e estando os cristãos a vencer o combate, eis que chega o primo, que faz crescer a ira do Traga Mouros e empata um pouco mais a vitória dos cristãos. Gonçalo agarra a sua amada e os dois cavalgam até Santarém. O rei permite o casamento desde que a princesa Fátima, se converta à fé cristã. Até ao casamento fica a viver na Terra de Fátima. Pelo batismo passa a chamar-se Oureana. Como presente de casamento as terras de Abadegas são oferecidas por D. Afonso Henriques ao jovem casal e passam a chamar-se Aurem…
Depois há um castelo com uma arquitectura totalmente distinta, a cadeia, a colegiada e a igreja das misericórdias. E a judearia, a sinagoga e os vestígios da passagem da inquisição. O tempo não está parado e o viajante tem que descer e voltar à terra. Em Ourém almoça no Girassol onde encontra um grupo de amigos, que num outro tempo, estudaram juntos e recordam agora histórias em episódios que o viajante pode ouvir e partilhar uma gargalhada, quando o amigo x, conta que o y , gritou do alto de uma janela quando passava o compasso pascal “ vou para alcobaaaçaaaaaaaa”. Já que ali estava passou na casa do administrador, que é agora museu municipal. Jogou também na sorte automática mesmo desconfiando dela e seguiu. Está perto de Tomar e precisa de voltar aos passos que já foram dados. Avista o castelo e impressiona-se de novo com os seus muros e com o que está para lá deles. Atravessa o jardim, entra no Convento de Cristo e deslumbra-se com o seu portal. Procura a charola , ainda há pouco renovada, o claustro principal, as ruínas do paço, o dormitório, a janela manuelina…está a ficar tarde, mas há ainda tempo de descer a Tomar, ver a praça com Gualdim Pais - mestre dos cavaleiros da ordem de Jesus Cristo ( 1195), o rio Nabão e a igreja da Conceição. São horas de partir e o viajante está feliz com tudo o que conheceu e o que reviu. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

segunda-feira, 31 de outubro de 2016