domingo, 23 de novembro de 2014

maravilhas do postcrossing


Eu sou daquelas que implora, sempre que algum amigo viajava, para que me envie ou traga postais do seu destino. Não sei bem porquê, talvez para ficar com um bocadinho dessa viagem, porque  gosto de os coleccionar e juntar numa caixa e de vez em quando dar uma espreitadela, apreciar as imagens, ler as palavras, relacionar as datas...
No inicio deste ano alguém me falou do postcrossing e mostrou um considerável número de postais de todo o mundo. UAAAAAAAAAUUU que é isto?!!!!!!!!!
 et voilá criei a conta, indiquei temas sobre os quais gostaria de receber postais, e depois é esperar alguns dias, abrir a caixa do correio e conhecer uma parte de uma cidade algures no mundo, as frases preferidas de alguém, os artistas que todo o mundo adora, ou os pintores desconhecidos até agora como este *August Macke - " Es ist fast zu shon hier".
O sistema claro é de troca, dar para receber. Wonderful.

domingo, 16 de novembro de 2014

sobre o Caminho*

Há quem considere a História cíclica, que ela se repete dada determinada  conjuntura económica, politica ou social. Dependendo de um contexto especifico há realidades que se repetem, e aqui se encaixa o grande chavão, usado mais ou menos genericamente pelos que estudam a história – conhecer o passado, para melhor gerir o presente e preparar o futuro. Não sei se não será demasiada pretensiosa ou redutora esta designação da ciência que estuda, acima de tudo, o Homem. O que sei é que conhecer o passado sempre me fascinou.
Quase me desviando do caminho a que me propôs, e recordando o passado, mais precisamente as aulas de idade média e o tema das peregrinações rumo a Santiago de pessoas de toda a Europa, ao ponto de marcar o quotidiano dos que viverem nesse tempo e dos que estavam por vir.
Entre os séculos XII e XIV, a peregrinação a Santiago fazia-se por vários motivos: a procura do milagre, o pagamento da devida promessa, a imposição pela igreja para punição de pecados graves, e a minha preferida, o do caminho como ascese empreendida com o objetivo de se purificar e obter a salvação da alma. Há que ter em conta o contexto de medo, próprio de um período de instabilidade e crise e sobejamente aproveitado pela igreja para “angariar”fieis e “assegurar” a sua salvação.
Assim existiam muitos caminhos, muitos peregrinos que demoravam meses ou anos a chegar ao seu destino, muitos crentes que repetiam o percurso dezenas de vezes, muitas isenções, benefícios e protecções, para os que chegavam ao local onde supostamente deu à costa, ( Padrão) o corpo do apóstolo Tiago, sepultado na majestosa construção românica de Compostela.
Já se percebeu que a minha rota está a ficar extensa de mais, defeito da história, que não nos deixa chegar ao fim, sem passar pelo que ficou pelo caminho. Não me alongo mais.
Há doze anos fiquei fascinada com o tema da peregrinação a Compostela, por conta da ascese, por tantos o terem feito, pelos símbolos, pela paisagem natural e construída que certamente se encontraria. Achei nessa altura que iria fazê-lo. Pouco depois surgem de novo as rotas organizadas, a divulgação da comunicação social, os testemunhos de quem o concretizou a cavalo, de bicicleta, a pé.
Os motivos são outros mas no fundo os mesmos. A procura, o encontro, a promessa, a aventura e a emoção. E eu a achar que mais dia menos dia, eu ia, eu queria. Mas não fui. É talvez das coisas que eu mais lamento não puder fazer, apesar dos exemplos que é possível. Não sei. A história repete-se, redescobre-se ou deixa-se para o futuro.
Cheguei. Foi difícil.
*inspirado nos peregrinos e na pequena "marca" que deixo no seu percurso;
* especialmente nos que sexta-feira me falaram dos seus 3 meses de caminho.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

domingo, 9 de novembro de 2014

sobre os filhos únicos

Há algum tempo que não consigo escrever neste blogue nada de minha autoria. As ideias que frequentam o meu pensamento, sempre antes de adormecer, não se transformam em palavras, daquelas cheias de sentido e profundidade como as que gosto de ler. Todavia, e deixando para quem de direito o dom da palavra escrita atrevo-me a deambular, com conhecimento de causa  sobre os filhos únicos, animada por um artigo com um sugestivo titulo SOU FILHO ÚNICO, E DEPOIS?
 O artigo foca a realidade dos nossos dias, que faz com que a maioria dos casais tenha um único filho e de todas as consequências que isso traz à sociedade.  Segundo o mesmo, os filhos únicos tendem a isolar-se, a ser pessoas pouco dadas à partilha, à conversa, ao convívio, são o centro das atenções dos seus pais, correndo riscos de se tornar pessoas mimadas, egocêntricas e solitárias . Talvez o pior desta nova realidade seja que as crianças e jovens “neste estado” , apreciem serem únicos e não vêm necessidade alguma de terem um irmão, porque eles têm TUDO e não precisam de mais nada.
Se agora esta é uma situação tão comum, no meu tempo era uma raridade. E aqui se compreende a minha tendência para a raro (ironia). Não me lembro de ter amigos ou colegas de turma, filhos únicos, era sempre eu a única. E nesse meu tempo era muito comum ouvir dizer-se “ és mesmo mimado vê-se logo que és filho único” . OU“ o quê?? és filha única, não pareces nada” . Agora  a raridade é ter-se um irmão.
Sinceramente nunca pensei muito nesse meu estado. Nunca achei que a personalidade de cada um dependesse do número ou da falta de irmãos. Nunca me achei privilegiada ou desfavorecida, era assim e ponto.
 No meu tempo brincávamos na rua, íamos a pé para a escola, partilhava sem problemas os brinquedos e os apontamentos, tive a sorte de ter uma amiga de sempre que é como se fosse uma irmã, frequentávamos a casa  uma da outra, até hoje.
Vivi sempre bem com a condição de única, apesar da preocupação mais extremada do meu pai, mais confiante da minha mãe, e de toda a experiência magnifica que é viver com uma avó, da qual eu acho que herdei um amor pelo saber ( saber ouvir, saber aprender, saber partilhar, transmitir, fazer…) muito por isso nunca me senti solitária, o que não quer dizer que não me sentisse sozinha, mas isso nunca foi um drama.
Perante a doença e as limitações, desejei muito não ser única. Na doença são muitas as preocupações. São  raros os amigos que ficam.  São raras as certezas sobre o futuro. E aqui não falo tanto por mim, embora me pareça mais que justo que ninguém fosse raro e único, mas pelos pais que enfrentam, quase que em permanência, o seu maior desafio, o de assegurar o bem-estar da sua raridade, no presente e no futuro.
E aqui surge o maior desafio dos filhos, o de apaziguar a sua ânsia, e de viver nesse estado, que como diz o autor deste artigo António Torrado, é “ algo para toda a vida. Não algo que apenas se viva enquanto criança…”  Não querendo pensar que um dia “ ficaremos órfãos, sentir-nos-emos sós”.  

No Diário das Coisas Impossíveis, o autor João Ferreira Oliveira diz algo, extremamente irónico e divertido, e que com o qual encerro este meu pensamento: “ainda hoje tenho uma secreta esperança de que a minha mãe engravide, mesmo já passando dos sessenta. Nem que fosse para mais tarde perceber, que afinal, não há nada como ser filho único”.