Há muito que o viajante tinha no
seu bloco de notas de soltas, que quando tivesse próximo, não podia passar sem
conhecer a vila medieval de Ourém. Realmente é quase um desprezo, não conhecer
uma vila que está num alto monte, que mais parece uma ilha que se elevou da
terra envolta numa planície verdejante. O viajante adorou percorrer as ruas
desertas mas ao mesmo tempo com vida. Uma vida de quem já por ali passou. E são
imensas as referências como a D. Nuno Alvares Pereira – o condestável, 3º conde
de Ourém está por toda a parte. Mas a vila é antiga e nela viveram judeus, até ao
édito de expulsão por D. Manuel em 1496, e muçulmanos e desse tempo há uma lenda
que o viajante achou fantasticamente elucidativa. Então, no tempo do conquistador
D. Afonso Henriques, havia um valoroso cavaleiro Gonçalo Henriques, conhecido
por “ Traga Mouros”. Estando nas suas conquistas contra os mouros às portas de Alcácer
do Sal, o jovem cavaleiro avista numa das torres de um castelo, uma princesa de
incomparável beleza, chamada Fátima, que claro estava prometida por seu pai ao
primo Abu. Chega a noite do confronto e estando os cristãos a vencer o combate,
eis que chega o primo, que faz crescer a ira do Traga Mouros e empata um pouco
mais a vitória dos cristãos. Gonçalo agarra a sua amada e os dois cavalgam até
Santarém. O rei permite o casamento desde que a princesa Fátima, se converta à
fé cristã. Até ao casamento fica a viver na Terra de Fátima. Pelo batismo passa
a chamar-se Oureana. Como presente de casamento as terras de Abadegas são
oferecidas por D. Afonso Henriques ao jovem casal e passam a chamar-se Aurem…
Depois há um castelo com uma
arquitectura totalmente distinta, a cadeia, a colegiada e a igreja das misericórdias.
E a judearia, a sinagoga e os vestígios da passagem da inquisição. O tempo não está parado
e o viajante tem que descer e voltar à terra. Em Ourém almoça no Girassol onde
encontra um grupo de amigos, que num outro tempo, estudaram juntos e recordam
agora histórias em episódios que o viajante pode ouvir e partilhar uma gargalhada, quando o amigo x, conta que o y ,
gritou do alto de uma janela quando passava o compasso pascal “ vou para
alcobaaaçaaaaaaaa”. Já que ali estava passou na casa do administrador, que é
agora museu municipal. Jogou também na sorte automática mesmo desconfiando dela
e seguiu. Está perto de Tomar e precisa de voltar aos passos que já foram
dados. Avista o castelo e impressiona-se de novo com os seus muros e com o que
está para lá deles. Atravessa o jardim, entra no Convento de Cristo e
deslumbra-se com o seu portal. Procura a charola , ainda há pouco renovada, o
claustro principal, as ruínas do paço, o dormitório, a janela manuelina…está a
ficar tarde, mas há ainda tempo de descer a Tomar, ver a praça com Gualdim Pais
- mestre dos cavaleiros da ordem de Jesus Cristo ( 1195), o rio Nabão e a
igreja da Conceição. São horas de partir e o viajante está feliz com tudo o que
conheceu e o que reviu. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.
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