quarta-feira, 20 de abril de 2022

sejam livres as palavras e as cores

Na Ágora os gregos combatem,

Mantêm a honra e o desgosto

Escondidos na harmonia da filosofia.

Dois irmãos brincam no Senado,

Lobos uivam ao redor do Coliseu

E os templos imortais discutem

A superioridade de um ser.

 

Em Alcobaça descansa Pedro

E o seu amor por Inês

No túmulo da bela história

Que o novo reinado assassinara.

 

E nas paredes das Catedrais

Já não dormem os anjos,

Pela luz que atravessa os redondos vitrais

E pelo barulho dos altos sinos

Que se assemelham aos apelos dos que sofrem

E revoltam, trabalham, defendem e desejam

Nas praças, nos palcos,

Quiçá nos salões dos palácios,

Debaixo do Sol divinal,

Pobres das sombras

Que as divindades não conhecem.

 

Luxúria francesa das valsas,

Das chics festas e dos bailados,

O amor quente e maltratado,

Dos chás ingleses sem pinga,

O ouro passa a carvão

E o carvão ao vapor

E o vapor à imensidão da Luz

Que se estingue no seio de uma mulher.

 

A água das naus escorre na forma de suor

Na face dos que na Gare se escravizam.

Acordos são tratados,

Muros derrubados,

Culturas arrebatadas,

Sociedades confinadas.

 

As borboletas novamente queimam

E perde-se a história nos arquivos,

Que ardem e cegam o que é ignorante.

 

Viva aquele que pensa,

Que salva a pátria,

Que castiga e mata.

Sejam livres as palavras e as cores

As algazarras e os espetáculos

E que ao efeito das borboletas estejamos condenados.

 Efeito Borboleta - Marta Silva

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