quarta-feira, 30 de outubro de 2013

a minha avó

Viveu mais do que aquilo que algum de nós espera viver. Acreditou sempre na sua missão e com isso aguentou e superou todas as contrariedades que uma vida com 97 anos pode trazer.
A partir de certa altura aproximamo-nos muito, quando perdi a avó primeira, e descobri uma avó diferente. Telefonava-me se podia ir com ela visitar os doentes da terra, ir ao médico, à farmácia, ao padre…e eu fazia-lhe a vontade e divertia-me porque assistia a batalhas de orações entre ela e as senhoras que visitávamos, sempre acompanhadas por um kg de açúcar, porque na sua maneira de ver a doença, o açúcar ainda tinha um carácter medicinal. Depois ia ao médico fazer campanha contra o aborto e depois confessava-se sempre ao mesmo padre, e ele e eu sabíamos de cor os seus supostos pecados. Achava que por eu ser professora sabia de tudo e então desbobinava todas as histórias de Merlin.
Dentro das suas ideias conservadoras, descobri-lhe um sentido de humor perspicaz. Uma delícia.
Quando adoeci rezou tanto por mim e organizou verdadeiras maratonas de terços e ladainhas, das quais ninguém escapava, e com certeza chegaram a algum lado. Com isso as nossas actividades ficaram em suspenso, outras netas ocuparam a minha “função” e descobriram o mesmo que eu.
Apesar do seu enorme medo da partida, ultimamente estava tranquila, com um ar terno.
E eu que sou de avós sinto-me um pouco mais vazia.

Deus sempre a vida. -nos a vida na Terra e -nos a vida do além. É o Deus da vida, não da morte.” – Jorge Bergoglio

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