domingo, 8 de março de 2015

sobre a mulher

Os dias dedicados à comemoração de uma data específica, quanto a mim, representam que ainda há muito a fazer por determinada causa. Se assim não fosse não era preciso assinalar num calendário e chamar atenção ao mundo para que se lembre este ou aquele dia. Hoje, é dia Internacional da Mulher e não é mau lembrar que nesse dia um grupo de operárias fabris morreu num incêndio, na sequência dos protestos por horas mais justas de trabalho. Na verdade, com o rigor que é exigido nestas coisas da história, já é questionável o que aconteceu no dia 8 de Março de 1857.
Todavia as mulheres são o sexo forte, porque são determinadas, lutadoras, porque estudam e trabalham e tem filhos e gerem as carreiras e as vidas pessoais e fazem mais umas mil coisas ao mesmo tempo..coisa que o sexo oposto , coitado, não é capaz.  Não querendo contrariar esta teoria, até porque em parte concordo com ela, o que deve importar não é a competição ou a chamada “ guerra de sexos”, o que importa é a Humanidade, a que inclui todos com base no equilíbrio e a complementaridade. E ai reside o cerne da questão, se todos são iguais e detém os mesmos direitos e o mesmos deveres é certo que, nos nossos dias, homens e  mulheres não estão ainda numa situação igualitária. Não valerá a pena falar da diferença de salários ( mesmo que seja das estrelas de Hollywood), da diferença de oportunidades, de quotas, de paridade, de brutalidade dos fracos sobre as que foram sempre frágeis…tendo, tudo isto,  ainda muito e tanto que ver com o que está lá atrás no passado.
Decidi percorrer um pouco uma época histórica, que de tão vasta que é, possibilita uma compreensão mais profunda da vivência dos nossos antepassados – a idade média (até porque agora há quem diga “ na idade média é que era”.
Na antiguidade clássica a vida da mulher não passava da esfera privada e mitológica. Gregos e romanos não incluíam a mulher nos cânones da sua esmerada educação. Certo que temos uma rainha no Egipto, sacerdotisas que se dedicavam às divindades, há documentação que mostra que também se dedicaram à sabedoria. Minorias. Com a queda do império romano e o crescente crescimento de um outro tendo também um homem como protagonista, a mulher mantém o seu papel privado. Ao homem cabem as funções de fora, à mulher “ governar e conservar tudo o que está em casa”, até porque esta detém uma natureza calma e conservadora, e ao mesmo tempo é “  um ser frágil” e deve estar ocupada ( com tarefas domésticas e do campo) pois é uma forma de resistir  às tentações a que está sujeita e que podem corromper a instabilidade do seu pensamento e a integridade dos seu corpo. Claro que sendo a sociedade medieval uma sociedade estratificada entre os que detinham privilégios e poder ( nobreza e clero) e o que asseguravam esses mesmos poderes e privilégios ( povo). As mulheres, são um grupo muito pouco heterogéneo. As de origem nobiliárquica tinham como grande papel assegurar a descendência. Por isso casava muito cedo, entre os 12 e 14 anos, para melhor aproveitar a sua fecundidade. Enquanto que as pertencentes ao povo casavam mais tarde e são muitas as tentativas para terminar com uma gravidez indesejada que iam desde o aborto ao infanticídio.
Esquecemos que neste período as mulheres mesmo com um papel exclusivo na esfera privada, acabam por destacar-se. Exemplo de santidade e obediência, a Rainha D. Isabel de Aragão tem um papel vital como mediadora e apaziguadora ao nível político e até se impõe ao nível construtivo, já que por sua ordem erguem-se mosteiros e paços que contam com a sua presença e indicações precisas sobre o que pretende. O que retemos é no entanto o milagre das rosas, a vida monástica após a viuvez, que acaba por a remeter para a esfera privada. Se recuarmos um pouco mais na história portuguesa percebemos que o reino tem origem numa mulher. D. Teresa traz como dote de casamento um território onde ela própria ergue castelos, comanda exércitos, concede cartas de foral. O seu poder pouco dura ergue-se o seu filho homem criado por um aio nobre e as crónicas que a apresentam numa perspectiva, que redefine o lugar e o papel da mulher na sociedade feudal da idade média. A mulher ser fraco e instável que se torna necessário resguardar e controlar, reflui para o privado afastando-se da História.
Ainda mais se poderia dizer sobre o papel da mulher na sociedade de todas as épocas históricas. Mas mandam as regras dos blogues que as mensagens não sejam extensas, pois os queridos e reduzidos leitores, podem perder interesse em tanta letra assim que abrirem esta página. E eu que adoro percorrer o passado mas de ser também actual, vou ficar por aqui (para já). Evidente que na esfera privada ou pública, a mulher sempre foi e será essencial.

Dai às paixões todo o ardor que puderdes, aos prazeres mil vezes mais intensidade, e aos sentidos a máxima energia e convertei o mundo em paraíso, mas tirai dele a mulher, e o mundo será um ermo melancólico, os deleites serão apenas o prelúdio do tédio.

 Eurico , o Presbítero - Prólogo ( 1843)

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