sexta-feira, 18 de setembro de 2015

vai o viajante # 4



Encontra o viajante o azul que procurava. É um mar diferente, uma extensão de areal como já não lembrava que as praias tem, um mar tipo rio imenso e tranquilo, mas sem cheiro a maresia. E isso despraz o viajante que não se inibe em entrar e nadar naquele mar. Descansa ao sol e ao silêncio embora haja tanta gente. Procura a cidade, encontra o poeta, praças e ruas desenhas pelo iluminado marquês, que não sendo daquela terra, lhe deu forma. O viajante já lá tinha estado e mal se apercebeu das ruas rectilíneas paralelas umas às outras, tal era a confusão e o amontoado de lojas de atoalhados que sempre marcam o comércio nas fronteiras. O comércio mantém-se, mas organizado, as ruas têm vida e outro esplendor. Vai até à marina, do outro lado é Espanha. 

" Encara, rindo, a vida que o tortura,
sem ver na esmola, a falsa caridade, 
que bem no fundo é só vaidade pura,
se acaso houver pureza na vaidade.

Já que não tenho, tal como preciso,
a felicidade que esse doido tem
de ver no purgatório um paraíso...

Direi ao contemplar o seu sorriso, 
ai quem me dera ser doido também
p´ra suportar melhor quem tem juízo."

António Aleixo in Este livro que vos deixo

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