O viajante tinha planeado o próximo destino. Mas planos são coisas que
o viajante já sabe há muito que não deve fazer. Teve pena mas como há tanto
para ver, seguiu a rota do que está perto no espaço mas longe no tempo. Recuou
ao ano 1000, altura provável da construção do castelo da póvoa de Lanhoso. Ao certo
ninguém tem a certeza destas coisas, mas que D. Teresa a condessa rainha lá
esteve é certo. Primeiro refugiou-se naquela construção inexpugnável, assente
no maior monolítico granitóide português, fugindo dos exércitos da sua irmã D.
Urraca e mais tarde conforme diz a tradição teria sido aqui presa pelo seu
filho, após a derrota na batalha de S. Mamede. O viajante reflete um pouco sobre
esta dupla função do castelo - refugio e prisão. Certo é que de original resta
pouco desta fortificação. A sua dimensão era muito maior, mas grande parte foi destruído
num incêndio ateado pelo próprio alcaide daquelas terras, que lá encontrou a
sua amada esposa com o amante, um monge das terras de Bouro. Mais tarde chegou
um homem enriquecido que decidiu dar aquele monte, uma conotação religiosa e
assim mostrar o seu fervor espiritual e temporal. A igreja que agora se
encontra no monte do pilar e capelas com via sacra foram construídas com as
pedras originais do castelo. Pouco restou até que outro ser, também ele fervoroso,
procurou recuperar os sentimentos de patriotismo apostando na reconstrução de
monumentos nacionais com relevo na importância da história de Portugal. Graças a
ele, diz o guia da torre do castelo, podemos estar dentro destes muros. O viajante
assiste a um elucidativo vídeo sobre o castelo, liga os acontecimentos e os
personagens, admira a paisagem envolvente, imagina exércitos e lutas. Segue
para a vila e encontra Maria da Fonte, personagem de um tempo mais próximo, heroína
que luta contra uma das mais polémicas leis do governo de Costa Cabral, a criação
dos cemitérios. E nisto o viajante não se demora. A luta é tão circunstancial
ao tempo, ao medo e ao fervor, embora quem procure na História encontrará os
verdadeiros motivos e consequências da rebelião do Minho. O viajante prefere
calcar as folhas e ouvir o seu estalar a cada passo. Prefere ver as cores das árvores
e sentir o sol quente deste Outono. O dia ainda não acabou e o viajante decide
procurar algo que há muito conhece mas só dos livros. Curiosamente são daquela
freguesia as mulheres que iniciam a revolta contra a lei de Cabral – Fontarcada.
Havia um mosteiro românico do qual só resta a igreja, imponente na sua pedra rústica
plena de símbolos. O portal com o agnus dei, as voltas e arquivoltas, a porta
do sol, a cachorrada, a cabeceira destacada. Entristece-se com a porta fechada,
mas enquanto dá a volta ao exterior, aparece qual S. Pedro de chave na mão, a
sacrastiã que se apressa a explicar que não podem fazer obras. O viajante está
a observar a grande entrada de luz, a rosácea maior e a mais pequena cheia de
luz e cor, não lhe apetece falar, mas tem que explicar o encanto deste templo
assim como era e como está. Não compreende se a senhora percebeu mas sente-lhe
o orgulho. O sol vai partir, dura pouco nestes dias, e o viajante parte com ele.
Sem planos, a viagem continua.
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
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