domingo, 13 de maio de 2018

distribuidor de recordações

É aquele fim de semana em que não se faz nada e faz-se tudo. A primavera, como outra estação qualquer, convida à mudança ou a arrumação. É incrível a quantidade de coisas que temos, que vamos juntado por qualquer motivo, mesmo aquelas coisas que já não vemos  ou não usamos há anos, e que nos custa meter num saco e mandar fora. “ Aiii comprei em não sei onde ou foi não sem quem que me deu e o isto ficava-me a matar em 19exxx “ esta já não sou eu. Livrei-me há muito daquilo que já não podia usar, e um lado meu talvez até demasiado terra a terra, não me permite acumular cenas que não terão assim como dizer “futuro”  . Mesmo assim são 37 anos de existência e há sempre alguma coisa a mais..que entretanto desapareceu sem dó nem piedade em algumas horas. Para o final um retemperador lanche e a casa vazia. Chá e torradas (daquelas feitas na torradeira de lume) e memórias que logo surgiram.
 Estava na mesa da sala da minha avó ( nós chamávamos-lhe casa velha), a mesa quadrada encostada a um aparador com uma televisão a preto e branco ( com uma caixa gigante). A minha avó estava na cozinha a preparar o lanche que geralmente envolvia cevada com leite e torradas com geleia. Eu ia olhando para a televisão e para as janelas com umas cortinas que ela fizera e tentava ver para o terreiro quem chegava. Vejo as cadeiras de madeira, a fruteira branca e dourada, vejo a porta verde aberta para o quintal, onde adorava brincar, vejo as chávenas brancas e o prato com torradas e sinto-lhes o cheiro, o sabor e o som estaladiço a cada dentada..e vejo como em outras tantas vezes a minha avó.  E para isso não precisei de papeis, nem coisas sem uso..só fiz um chá e umas torradas. 

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