terça-feira, 6 de julho de 2021

Mnemosine *

Remorso por qualquer morte

Já livre da memória e da esperança ,
quase futuro, ilimitado, abstrato, 
não é um morto, o morto: ele é a morte.
Como esse Deus dos místicos, 
o morto ubiquamente alheio
é só a perdição e a ausência do mundo.
Roubamos-lhe tudo,
não lhe deixamos uma cor nem uma silaba:
é este o pátio que os seus olhos já não partilham 
e aquele o passeio onde perscrutou a sua esperança.
Até o que pensamos poderia ele pensar;
repartimos por nós como ladrões
todo o caudal das noites e dos dias. 

jorge luis borges





* deusa da memória
* memória, história e historiografia 
* historia magistra vita est

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