sábado, 15 de março de 2008

acompanhante pai

um destes dias folheava a revista visão onde li um artigo muito interessante de José Luis Peixoto do qual transcrevo algumas passagens...o tema foca o sofrimento dos pais perante a doença de um filho..
Acompanhante: pai

"Não percebo como fui capaz de esquecer os arrumadores de carros á porta do hosapital, ou o olhar mortiço dos seguranças fardados, ou as conversas de elevador das enfermeiras. Agora, de novo, a vida parou. Os problemas, os chamados problemas, as recompensas, as ambições, as obrigações pararam. As obrigaçoes têm de esperar porque agora tudo tem que esperar . E já me tinha esquecido da forma como tudo pode parar, assim de repente, sem aviso, de como fica apenas um nevoeiro sobre os objectos. E deixa de haver outros assuntos para pensar, e menos ainda para escrever.. .
Entro no quarto, e a mãe já lá está, nunca de lá saiu. E é assim que as enfermeiras nos tratam: mãe, pai. Para as enfermeiras esse é o nosso unico nome. Faz sentido. Para poder entrar, temos um rectangulo cor de rosa que diz internamento de pediatria , c0m o nome do nosso filho, o número do quarto, o número da cama e a identificação do acompanhante, no meu caso pai. ..
...assistirmos ao sofrimento do nosso filho é estarmos em carne viva por dentro, é não termos pele, é um incêndio a arder no mundo inteiro..e cada som do nosso filho a sofrer é silêncio em brasa, é a cabeça cheia de silêncio em brasa, o peito cheio, incandescente, o mundo inteiro em brasa...."
josé luis peixoto

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