O workshop visava mostrar os projetos e estudos elaborados por rigorosos investigadores
com o propósito de se alcançar uma cidade inteligente e sustentável. Dentro do
tema formam-se grupos de trabalho, cada um com seu tema, coube-nos (APD)
discutir a mobilidade, com representantes da divisão de trânsito, autoridades
de controlo do trânsito (muito trânsito), empresários do setor de transportes públicos e
privados. A grande questão: como atrair a população aos transportes públicos? Visando
claro reduzir a utilização dos veículos próprios e com isso reduzir a poluição,
o tráfego e todos os problemas daí decorrentes. Por rondas cada representante
vai emitindo opinião, apontando problemas e soluções.
Sobre soluções para pessoas
com mobilidade reduzida utilizarem os transportes públicos, o que se descobriu
é que a solução não passa por esse transporte. Porquê ? Faltam acessos, existem
barreiras, existe pressa e má vontade e pouco lucro, pareceu-me a razão essencial, pela forma como
se eriçou um representante do setor privado, que com ironia me compara com
Santo António a pregar aos peixes. Prevendo que ao sair daquela sala tudo será
rapidamente esquecido e ignorado, pelos decisores, tipo ele próprio.
Coitado do senhor, que ignora a lenda que dá
conta, que os peixes foram os únicos a ouvir atentamente o santo, quando este
pregava contra as grandes heresias ocorridas em Itália durante o século XIII.
Apesar de apreciar o exemplo de vida deste franciscano, não foi a imagem do
santo que me ocorreu, mas a de Padre António Vieira e do seu Sermão aos Peixes,
pregado no Maranhão em 1654, no dia em que se celebrava precisamente o santo
que por os homens não o ouvirem, muda de púlpito e de auditório, mas não desiste
da doutrina.
Queria eu ter uma pequena parcela do poder de argumentação
e retórica de Vieira e atirar-lhe com um “ VOS ESTIS SAL TERREA * - e o efeito do sal é impedir a corrupção, mas
quando a terra se vê tão corrupta com esta nossa, havendo tantos nela que têm o
oficio de sal, qual será, ou qual poderá ser a causa desta corrupção? Ou é
porque o sal não salga, ou porque a terra não se deixa salgar”.
Claro que o contexto é muito distinto mas o
padre António Vieira jesuíta e missionário, pretendia com este sermão, proteger
os mais fracos ( os povos nativos escravizados), do abuso dos mais fortes (
colonizadores).
E colocando assim as coisas, não é que o dito
senhor, sem saber abriu toda uma nova perspectiva de mim e dos meus sermões.
Claro que não ficou sem resposta, embora muito
menos erudita, mas apoiada pelos restantes, baseada no conceito de inclusão e não
de segregação dos frequentadores dos transportes públicos.
Quanto às
soluções, afinal elas já foram pensadas e apresentadas. Aguardam por
financiamento. Claro. Que isto não está fácil e devemos pensar numa lógica de
partilha, solidariedade e equilíbrio embora vivamos um tempo de “ egoísmo coletivo”. Dizem.
Sobre os peixes:
“ se os pequenos comem os grandes, bastará um
grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam
cem pequenos, nem mil, para um só grande”- Padre António Vieira * Mateus, capítulo 5, versículo 13