sábado, 14 de maio de 2016

vai o viajante # 8






Regressa o viajante ao seu relato. Do alto da colina em que está a Sé o viajante traçou o seu trajeto. Desceu pelo bairro tão típico, apreciou a Igreja dos Grilos, que lhe pareceu tão imponente e até exótica por estar literalmente encaixada naquela paisagem. Ouviu as mulheres a combinar como enfeitariam os altares dos santos para este domingo. Chegou ao ponto que o levaria a descobrir a igreja de S. Francisco, a mesma em que a rigidez e sobriedade do exterior (românico e gótico) contrasta com o interior soberbamente decorado com talha dourada, ao ponto de alguém a apelidar como a igreja de ouro. É curiosamente inquietante como numa igreja erigida por uma ordem religiosa mendicante, que nasceu para cuidar dos mais frágeis da sociedade, se transforma numa igreja escolhida, pelos homens de poder, para ali se sepultarem e poderem com isso, estar mais próximos da salvação divina. O viajante prefere o trabalho da pedra e a simplicidade do exterior mas não deixa de se impressionar com a talha que cobre as paredes, os altares, os retábulos e as abóbadas. No meio da exaustão barroca repara na pedra simples dos púlpitos com um símbolo em que fixa olhar, mas que ninguém conseguiu explicar, teceu a sua própria teoria e seguiu.  À sua frente vai o Douro cheio de vigor e o viajante decide descer até à Ribeira. Encontra uma vez mais o Infante D. Henrique e a casa onde nasceu. Aprecia o rio e a ponte D. Luís e as gentes que se passeiam e aproveitam o sol. Descansa e aponta tudo o que viu para não esquecer nenhum pormenor. Ainda está a pensar nos Franciscanos que no tempo das lutas entre absolutistas e liberais ( 1828-1834), tomam partido por D. Miguel, e após o cerco do Porto, D. Pedro retira-lhes os bens e entrega-os a quem esteve do seu lado. Recuperadas as forças é de novo altura de subir, sem querer,  encontra a Rua das Flores e sabe que há algo que tem que ver. A fachada da Igreja da Misericórdia, renovada por Nasoni, dando-lhe toda a cenografia e intencionalidade que o barroco exige. Logo de seguida entra no Museu da mesma entidade. É impressionante o seu espólio de pintura, escultura, ourivesaria, bens adquiridos ou deixados por quem usufruiu dos serviços prestados por tão poderosa instituição. O que mais agrada ao viajante é o encontro com uma pintura, recentemente adquirida, através de um corredor sinuoso que levava ao cofre e depois um grande pátio ( espécie de claustro) cheio de luz. Há por estes dias uma exposição sobre as recentes obras realizadas na igreja dos Clérigos mais um legado de Nasoni. O viajante está satisfeito com tudo que viu. Olha o relógio e vê que são horas de partir. Sabe que vai regressar. O viajante regressa sempre. 

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