sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

vai o viajante #12





É preciso não deixar para o ano o que se pode escrever hoje. Há que organizar as notas soltas que estavam em falta. Vai o viajante para sul pelo interior. Ainda não sabe mas vai passar por terras de escritores. Passa ao lado de Constância, vila que em 1547, recebeu Camões. Vê a indicação para a Golegã, onde gostaria de ir mas numa outra ocasião. O seu caminho leva-o a Abrantes e sem esperar está em frente ao quartel militar de Abrantes. Deteve-se para uma curta visita, uma recordação de estada e de partida rumo a um cenário que marcaria para sempre toda uma geração de portugueses. Segue viagem que o destino é mais a sul. Numa paisagem algo hostil passa Galveias, terra de um escritor que deu nome a um dos seus livros. O viajante lembra-se que já tentou ler uma das suas obras mas não conseguiu. Segue a sua viagem pelas terras de fronteira marcadas por fortificações de defesa. Gostava de parar em todas mas não há tempo, há que chegar a Estremoz. A paisagem é marcada por uma colina com uma alta torre de mármore rosa. Ali houve um castelo e um convento transformado em pousada, e voltada para a torre que foi sua D. Isabel, a Rainha Santa, que lá morreu em mais uma das suas missões conciliadoras. Partiu de Estremoz para Coimbra onde desejava ser sepultada, espalhando na sua última viagem o perfume de rosas. Tudo isto contado apaixonadamente por uma senhora que ouvia rádio e fazia terços em croché na igreja de santa Maria, onde obviamente não faltavam referências à santa que foi rainha de Portugal. O viajante já conhecia esta e outras histórias de D. Isabel mas ouvi-las com o entusiasmo e doçura no sotaque de alguém que nunca saiu do Alentejo é outra coisa. Na mesma praça há uma outra igreja, transformada em centro de exposição dos bonecos de Estremoz, com uma belíssima galilé. E depois nas costas de D. Isabel a imensidão da planície dourada e num ponto mais alto o vislumbre de Evoramonte. Tempo agora de descer ao Rossio, procurar a igreja de S. Francisco, e encontrar tudo o que está contado pelo seu guia. Mesmo em frente, uma fonte com uma estátua de Saturno, a que os populares chamam praça da gadanha. Por baixo da estátua uma inscrição que o viajante acha perfeita para a vida, o tempo e aquele espaço “corre o tempo velozmente”. Descansa ali um pouco, com a sensação de clareza e frescura que a água transmite. Volta para a estrada, não muito longe dali encontrará outra terra que há muito deseja conhecer..a vila viçosa. No caminho não consegue deixar de pensar na vida de D. Isabel, em todas as vezes que já se cruzou com ela, na sua origem aragonesa, em todas as suas viagens, na sua função pacificadora no meio de guerras pelo poder.

“ Na vossa mansidão, Senhora, nunca deixou de haver rebeldia” – D. Dinis sobre D. Isabel

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