Na estrada entre Estremoz e Vila Viçosa as jazidas de mármore lembram
ossos amontoados, nunca vira nada assim. A vila confirma o seu nome e o
viajante adora. O céu é de um azul intenso. Ao aproximar-se o fim do dia as
andorinhas voam de encontro ao casario onde tem os seus ninhos . Há uma pequena
avenida que se inicia com uma igreja e
termina no castelo. Para lá do castelo e das suas muralhas há tanto ainda que
ver. A igreja de Nossa Senhora da Conceição, fundada como Nossa Senhora do Castelo por D. Nuno Alvares Pereira, a quem D. João IV entregou a coroa
de Portugal em 1646. O museu de caça, que o viajante não apreciou muito apesar de
entender o seu valor, o museu de arqueologia onde se reúnem achados de outros tempos e preservadas memorias. Do pequeno torreão do castelo a vista sobre a
vila é fantástica, serena e majestosa quando se põe os olhos no paço ducal edificado
com a mais nobre matéria prima da região – o mármore. Desce e encontra Florbela
Espanca, vê a casa onde nasceu e a sua última morada e compra uma biografia da
poetisa. Vai guardar a leitura para mais tarde. É tempo de fazer uma paragem
para jantar e uma alentejana com accent français indica o restaurante O Paixão,
com a devida palavra pass para aceder às delicias da gastronomia local. As migas de tomate e peixe frito da D.
Etelvira foram o verdadeiro pitéu. Debaixo do céu já pintado de estrelas o
viajante vai até à praça do paço, onde D. João IV se apresenta no seu cavalo,
como quando partiu de Vila Viçosa para Lisboa e dar inicio uma nova era para a
monarquia portuguesa interrompida pela crise dinástica de 1580, com o desaparecimento de D. Sebastião, e consequente domínio filipino. 1º de Dezembro de 1640 repõe-se a independência. Desde meados do século XIX, passando pela Primeira Republica, Estado Novo e Democracia, Portugal comemora esse dia, apesar da maioria do seu povo, desconhecer o que aconteceu, até um certo governo o eliminar do calendário festivo.Teria sido por esse desconhecimento? Ai não…
parece que teve que ver com problemas de produtividade e superação de crise. Não importa, houve um
sistema tipo geringonça que quis repor a comemoração desta data. Viva a Independência!!!Geringonças à parte que metade desta terra pertence à actual Casa Real de
Bragança, o melhor é não misturar sistemas, e regressar à rua de Florbela para descansar, o dia foi
intenso, antes de dormir o viajante folheia as primeiras páginas do livro que
comprou e lê:
Minh´a alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver
Pois tu és já toda a minha vida.
Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história, tantas vezes lida!
(…)
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