o viajante está contente,
conseguiu fazer um plano da sua viagem, calculando os tempos e assinalando o
que tinha mesmo que ser visto, mas sem ser demasiado rígido afinal as mini férias
tem que ser aproveitadas. Vai agora na
estrada, com vários destinos em mente, e dá-se conta de como é retemperador o
caminho que liberta dos pensamentos, dizendo melhor de qualquer pensamento.
A primeira paragem é
feita em Amarante, há muito que deseja encontrar Amadeu Sousa Cardoso, mas mal
entra na cidade percebe que vai perder tempo. Estava tudo enfeitado para as
festas do Junho. Não podia imaginar que o novo mês, preste a começar, tinha
direito a romaria por estas bandas. Na igreja de S. Gonçalo decorria uma
celebração e o museu de Amadeu estava fechado. Contentou-se assim o viajante
com a vista sobre o rio Tâmega e com o exterior da igreja de S. Gonçalo
extremamente limpa. Há algo nas pedras limpas que lhe soa a vazio e que lhe
desagrada um pouco. Enfim há que seguir para outro destino e um dia voltar para
encontrar as obras de Amadeu. Lamego é o destino mas até lá é a paisagem
verdejante das vinhas nos socalcos que se impõe. O viajante já havia por lá
passado faz poucos anos, mas não deixa de se impressionar com a mão dos homens
na natureza. A Régua é mesmo ali ao lado mas não se desvia agora do seu
trajeto. Encontra Lamego muito diferente daquilo que ainda restava na sua
memória de infância, numa ida em excursão à serra da estrela da qual há uma videocassete
cheia de momentos hilariantes. É bonita a cidade, uma grande praça retangular
que une a cidade a um grande escadório e santuário. De um outro lado um ruína
transformada em castelo ( que agora cidade sem castelo não é cidade que se
preze) e em baixo o antigo paço e a catedral. A sua fachada remete para o
gótico final com as arquivoltas e os corocheús ricamente decoradas em gosto
flamejante. Sagrada que foi em 1175 apresenta uma mescla de estilos decorrentes
do tempo e da vontade dos seus bispos. Ainda no exterior a torre indica a
antiguidade românica, com as suas ameias, a lembrar as igrejas tipo fortaleza.
No interior a prova que estes edifícios continuam a alterar-se, um altar do
nosso tempo com um tema ressuscitado por quem decora lugares santos - a árvore
da vida. Mas o que fez o viajante
procurar este lugar foi Nasoni . Há uns tempos deteve-se nas obras do italiano
que tantas marcas deixou na cidade do Porto. Mas esta é diferente, é um mar de
cor por cima das nossas cabeças. Encantado deixa a sé e almoça mesmo em frente
e perto de ir ao Museu, onde sabe que irá encontrar vários tesouros. Um deles tem como autor Vasco Fernandes o
pintor de renovação ou renascimento do século XVI, mais conhecido por Grão Vasco. No museu figura um
políptico que antes decorava o altar-mor da catedral e um Quo Vadis totalmente restaurado. Entre os chamados
tesouros destaca-se as obras de André Reinoso, especialmente um pequeno mas
adorável S. José com o menino, já conhecido do viajante. Segue para o mais
invulgar tesouro, um conjunto de
tapeçarias que surpreendem pelo seu excelente estado de conservação,
pois datam de 1525-1530 e por retratarem a trágica história do Rei Édipo e de
sua mãe Jocasta , numa
encomenda do bispo de Lamego, a um artista flamengo, para decoração do seu paço. Quase a terminar
a visita uma série de painéis de azulejos de 1670, com uma decoração inspirada
nos panos da índia e que pertencia a um palácio de Lisboa tendo a sua
proprietária doado os painéis ao museu para evitar que se perdessem. O viajante
vai feliz porque há muito queria ter vindo aqui, a este museu a esta cidade.
Apesar de não fazer grande questão, sobe ainda ao santuário vê o grande pátio
barroco mas não se demora há ainda muito que ver.