quarta-feira, 6 de junho de 2018

vai o viajante #15







o viajante está contente, conseguiu fazer um plano da sua viagem, calculando os tempos e assinalando o que tinha mesmo que ser visto, mas sem ser demasiado rígido afinal as mini férias tem que ser aproveitadas.  Vai agora na estrada, com vários destinos em mente, e dá-se conta de como é retemperador o caminho que liberta dos pensamentos, dizendo melhor de qualquer pensamento.
A primeira paragem é feita em Amarante, há muito que deseja encontrar Amadeu Sousa Cardoso, mas mal entra na cidade percebe que vai perder tempo. Estava tudo enfeitado para as festas do Junho. Não podia imaginar que o novo mês, preste a começar, tinha direito a romaria por estas bandas. Na igreja de S. Gonçalo decorria uma celebração e o museu de Amadeu estava fechado. Contentou-se assim o viajante com a vista sobre o rio Tâmega e com o exterior da igreja de S. Gonçalo extremamente limpa. Há algo nas pedras limpas que lhe soa a vazio e que lhe desagrada um pouco. Enfim há que seguir para outro destino e um dia voltar para encontrar as obras de Amadeu. Lamego é o destino mas até lá é a paisagem verdejante das vinhas nos socalcos que se impõe. O viajante já havia por lá passado faz poucos anos, mas não deixa de se impressionar com a mão dos homens na natureza. A Régua é mesmo ali ao lado mas não se desvia agora do seu trajeto. Encontra Lamego muito diferente daquilo que ainda restava na sua memória de infância, numa ida em excursão à serra da estrela da qual há uma videocassete cheia de momentos hilariantes. É bonita a cidade, uma grande praça retangular que une a cidade a um grande escadório e santuário. De um outro lado um ruína transformada em castelo ( que agora cidade sem castelo não é cidade que se preze) e em baixo o antigo paço e a catedral. A sua fachada remete para o gótico final com as arquivoltas e os corocheús ricamente decoradas em gosto flamejante. Sagrada que foi em 1175 apresenta uma mescla de estilos decorrentes do tempo e da vontade dos seus bispos. Ainda no exterior a torre indica a antiguidade românica, com as suas ameias, a lembrar as igrejas tipo fortaleza. No interior a prova que estes edifícios continuam a alterar-se, um altar do nosso tempo com um tema ressuscitado por quem decora lugares santos - a árvore da vida.  Mas o que fez o viajante procurar este lugar foi Nasoni . Há uns tempos deteve-se nas obras do italiano que tantas marcas deixou na cidade do Porto. Mas esta é diferente, é um mar de cor por cima das nossas cabeças. Encantado deixa a sé e almoça mesmo em frente e perto de ir ao Museu, onde sabe que irá encontrar vários tesouros.  Um deles tem como autor Vasco Fernandes o pintor de renovação ou renascimento do século XVI, mais  conhecido por Grão Vasco. No museu figura um políptico que antes decorava o altar-mor da catedral e um Quo Vadis totalmente restaurado. Entre os chamados tesouros destaca-se as obras de André Reinoso, especialmente um pequeno mas adorável S. José com o menino, já conhecido do viajante. Segue para o mais invulgar tesouro, um conjunto de  tapeçarias que surpreendem pelo seu excelente estado de conservação, pois datam de 1525-1530 e por retratarem a trágica história do Rei Édipo e de sua mãe Jocasta , numa encomenda do bispo de Lamego, a um artista flamengo,  para decoração do seu paço. Quase a terminar a visita uma série de painéis de azulejos de 1670, com uma decoração inspirada nos panos da índia e que pertencia a um palácio de Lisboa tendo a sua proprietária doado os painéis ao museu para evitar que se perdessem. O viajante vai feliz porque há muito queria ter vindo aqui, a este museu a esta cidade. Apesar de não fazer grande questão, sobe ainda ao santuário vê o grande pátio barroco mas não se demora há ainda muito que ver.

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