Chega agora o viajante a
Viseu..nunca lá tinha estado. É a terra de Viriato, sabe-o desde a escola
primária, mas entretanto esqueceu-se da atitude combativa que teve para com a
ocupação romana das terras lusitanas ( entre 147 a 140 a.C) . Era líder de uns quantos
focos de resistência e travava duras batalhas das quais sempre saía vencedor.
Só não contava ser traído e assassinado ( em 139 a. C pelos que lutavam a seu lado a troco de um
grande prémio recebido em Roma). Curioso agora pensar nos louvores e estátuas
que se erguem em honra de alguém que
havia sido "inimigo". Interpretações da história. A sua passagem por
Viseu é breve e apesar de tanto ter que ver, o viajante vai no sentido da
catedral, atravessa o Rossio, a cidade
parece-lhe familiar, e encontra a praça de D. Duarte - o rei Eloquente ( que
aqui nasceu em 1391), e por trás da sua estátua um belíssimo varandim que compõe
o edifício da catedral. A história desta
catedral é em tudo semelhante a outras. Remonta aos
primórdios do reino, é intervencionada ao longo dos séculos por vontade de quem
tem poder. O que se destaca e surpreende o viajante são as abobadas manuelinas
das naves, obra decorrida entre 1505 e 1516 atribuída a quem? a quem ? João de
Castilho, quem mais!! Aqui pensa o viajante nesta curiosa situação que tem que
ver com a atribuição das obras aos seus hipotéticos autores e assim concluí :
toda a obra arquitectónica e decorativa do gótico final e do manuelino pertence
a Castilho. Toda a pintura do século XVI nos cânones do renascimento são de
Grão Vasco e toda a obra barroca do norte é do italiano Nasoni, no caso do
rococó André Soares!!! Certo que há obras assinadas, documentos e livros de
assento, encomendas e encomendadores que anotavam e registavam..mas também há
coisas que se perdem e características que se assemelham e por conta disso
ganham mais obras os autores de mais fama. Quase que se perde o viajante de
onde vinha..Ah sim as abobadas, num jeito manuelino que resulta numa grande
corda com vários nós, como nunca havia visto. Depois sobre o altar-mor uma
pintura do século XVII com figuras meio humanas, meio animais, repleta de
volutas, flores e pássaros, à qual um grande especialista de arte, do nosso
tempo, denominou por estilo grotesco. O contraste da pintura com a rigidez da
pedra com nós, resulta numa maravilhosa cobertura de toda a catedral. Deseja o
viajante que saibam todos os que por aqui passam olhar para o ar. Há
ainda um elemento aqui que surpreende o viajante, uma relíquia de S. Teotónio,
que foi o primeiro santo português. Segundo a informação ao lado da relíquia,
Teotónio foi sacerdote, conselheiro de D. Afonso Henriques. Mais foi apurar o
viajante o sacerdote nasceu em valença do minho, fez duas viagens à terra santa
que o inspirou a fundar o mosteiro de santa cruz de Coimbra, e sempre recusou
um maior poder como o cargo de bispo de Viseu. Resumidamente é isto. De frente
para a sé está a igreja da misericórdia, que dentro não precisa de tempo para
ser vista. Tem que partir o viajante, o dia já vai longo, atravessa a porta do Soar com o seu arco de
ogiva quebrado, de onde partia a muralha da cidade à qual deseja um dia voltar.
terça-feira, 12 de junho de 2018
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