terça-feira, 12 de junho de 2018

vai o viajante #16





Chega agora o viajante a Viseu..nunca lá tinha estado. É a terra de Viriato, sabe-o desde a escola primária, mas entretanto esqueceu-se da atitude combativa que teve para com a ocupação romana das terras lusitanas ( entre 147 a 140 a.C) . Era líder de uns quantos focos de resistência e travava duras batalhas das quais sempre saía vencedor. Só não contava ser traído e assassinado ( em 139 a. C  pelos que lutavam a seu lado a troco de um grande prémio recebido em Roma). Curioso agora pensar nos louvores e estátuas que se erguem em honra de alguém  que havia sido "inimigo". Interpretações da história. A sua passagem por Viseu é breve e apesar de tanto ter que ver, o viajante vai no sentido da catedral, atravessa o Rossio,  a cidade parece-lhe familiar, e encontra a praça de D. Duarte - o rei Eloquente ( que aqui nasceu em 1391), e por trás da sua estátua um belíssimo varandim que compõe o edifício da catedral. A história desta  catedral  é  em tudo semelhante a outras. Remonta aos primórdios do reino, é intervencionada ao longo dos séculos por vontade de quem tem poder. O que se destaca e surpreende o viajante são as abobadas manuelinas das naves, obra decorrida entre 1505 e 1516 atribuída a quem? a quem ? João de Castilho, quem mais!! Aqui pensa o viajante nesta curiosa situação que tem que ver com a atribuição das obras aos seus hipotéticos autores e assim concluí : toda a obra arquitectónica e decorativa do gótico final e do manuelino pertence a Castilho. Toda a pintura do século XVI nos cânones do renascimento são de Grão Vasco e toda a obra barroca do norte é do italiano Nasoni, no caso do rococó André Soares!!! Certo que há obras assinadas, documentos e livros de assento, encomendas e encomendadores que anotavam e registavam..mas também há coisas que se perdem e características que se assemelham e por conta disso ganham mais obras os autores de mais fama. Quase que se perde o viajante de onde vinha..Ah sim as abobadas, num jeito manuelino que resulta numa grande corda com vários nós, como nunca havia visto. Depois sobre o altar-mor uma pintura do século XVII com figuras meio humanas, meio animais, repleta de volutas, flores e pássaros, à qual um grande especialista de arte, do nosso tempo, denominou por estilo grotesco. O contraste da pintura com a rigidez da pedra com nós, resulta numa maravilhosa cobertura de toda a catedral. Deseja o viajante que saibam todos os que por aqui passam olhar para o ar. Há ainda um elemento aqui que surpreende o viajante, uma relíquia de S. Teotónio, que foi o primeiro santo português. Segundo a informação ao lado da relíquia, Teotónio foi sacerdote, conselheiro de D. Afonso Henriques. Mais foi apurar o viajante o sacerdote nasceu em valença do minho, fez duas viagens à terra santa que o inspirou a fundar o mosteiro de santa cruz de Coimbra, e sempre recusou um maior poder como o cargo de bispo de Viseu. Resumidamente é isto. De frente para a sé está a igreja da misericórdia, que dentro não precisa de tempo para ser vista. Tem que partir o viajante, o dia já vai longo,  atravessa a porta do Soar com o seu arco de ogiva quebrado, de onde partia a muralha da cidade à qual deseja um dia voltar.

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