terça-feira, 5 de março de 2019

vai o viajante #18


O viajante tinha prometido que voltava a Amarante para  ver Amadeu e voltou. O museu que acolhe algumas das suas obras é fantástico e acolhedor. Por conta das celebrações do centenário da sua morte, estavam expostas duas obras vindas da Fundação Caloust Gulbenkien: a cosinha de manhufe e a máscara de olho verde. O viajante sentiu que ganhou o dia. Além de Amadeo há obras extra do movimento modernista português e nomes incontornáveis como júlio pomar, paula rego e uma descoberta recente para o viajante João Vieira ( que inspirado nos movimentos franceses, associa poesia e pintura). Recordou um poema inspirador deste artista : *

La chair est triste, hélas ! et j’ai lu tous les livres.
Fuir ! là-bas fuir ! Je sens que des oiseaux sont ivres
D’être parmi l’écume inconnue et les cieux !
Rien, ni les vieux jardins reflétés par les yeux,
Ne retiendra ce cœur qui dans la mer se trempe,
Ô nuits ! ni la clarté déserte de ma lampe
Sur le vide papier que la blancheur défend,
Et ni la jeune femme allaitant son enfant.
Je partirai ! Steamer balançant ta mâture,
Lève l’ancre pour une exotique nature !

Un Ennui, désolé par les cruels espoirs,
Croit encore à l’adieu suprême des mouchoirs !
Et, peut-être, les mâts, invitant les orages,
Sont-ils de ceux qu’un vent penche sur les naufrages
Perdus, sans mâts, sans mâts, ni fertiles îlots…
Mais, ô mon cœur, entends le chant des matelots !

Viu tudo e voltou de novo a Amadeo. Seguiu a sua cronologia, a vida em Manhufe, o apoio do tio, o  estudo de belas-artes em Lisboa, a partida para Paris, o casamento com Lúcia ( fiel depositária da sua obra)  o regresso ou a guerra e a morte em Espinho.
O viajante lembra os tempos de história de arte com uma professora muito querida mas muito fã do barroco e pouco conformada em ensinar, no semestre seguinte, arte contemporânea. Valeu-lhe um outro encorajamento para se confrontar com a complexidade e valor das cores e das formas. Amarante fica. A viagem continua... em retrocesso cronológico. 

* máscara de olho verde, 1915
* stéphane mallarmé, 1865 

Sem comentários: